Conheça TUDO sobre a Arte Flamenga, estilo surgido no norte da Europa que revolucionou a Pintura nos séculos 15 e 16 – e que, segundo alguns, sem ela não teria existido o Renascimento!
DEFINIÇÃO DE ARTE FLAMENGA
Por Arte Flamenga deveria ser entendido, em sentido restrito, apenas a feita no Condado de Flandres, grande e muito importante território localizado no norte da Europa, mais ou menos na atual metade norte da Bélgica, além de um trecho na atual França e outro na atual Holanda. Este condado existiria até o final do século 18 quando acabou sendo anexado pela França.
(A atual Bélgica é dividida em duas partes principais. A parte sul é chamada de Valônia e a norte ainda se chama de Flandres. Em Flandres o principal idioma é o holandês. Entretanto, o dialeto local é comumente chamado de “flamengo”, assim como os habitantes de Flandres também são chamados de “flamengos”.)
No início do século 15, o Condado de Flandres era rico e poderoso, e ali a Arte prosperaria por um caminho diferente do que se vinha fazendo na Itália.
A vida em Flandres, naquela época, girava em torno de cidades como Bruges e Ghent (hoje as duas mal passam de 100 mil habitantes, enquanto a capital da Bélgica, Bruxelas, tem mais de 1,2 milhões de moradores.)
A região era muito influente e isto acabaria se refletindo na Arte praticada também no entorno de Flandres. Assim, a Arte feita naquela época em todo o norte da Europa e que seguia os padrões de Flandres, mesmo que não fosse feita exatamente dentro do território do Condado, muitas vezes é chamada genericamente de Arte Flamenga – e isto irá incluir, por exemplo, alguma coisa feita na França ou na região da atual Alemanha.
Portanto, por “Arte Flamenga” entende-se, na prática, mais um estilo do que uma localização precisa. Um estilo e uma época, que dura mais ou menos dois séculos. Em algum ponto da História a Arte feita em Flandres irá se encontrar com a Italiana, uma irá influenciar a outra e já não existirá mais, claramente, um “estilo (exclusivamente) flamengo”. Não é fácil, entretanto, apontarmos o dia exato em que a Arte Flamenga “morreu”.
Assim, aqui também adotaremos esta concepção relativamente frouxa, que situa a Arte Flamenga em um espaço mais ou menos definido em um tempo mais ou menos definido.
Com a prática, com o estudo e a observação frequente, torna-se mais uma questão de “olhar e saber” que tal pintura é Arte Italiana, tal pintura é Arte Flamenga…
CARACTERÍSTICAS DA PINTURA FLAMENGA
Para entendermos a revolução que foi a Pintura Flamenga, é necessário olharmos para a Arte que vinha sendo feita no sul do continente europeu, mais exatamente na Itália. O estilo que surgia ali, que seria posteriormente chamado de Gótico Internacional, também era revolucionário.
Especialmente baseada na técnica do afresco, feita na parede de capelas e igrejas, a Pintura Italiana se caracterizava por uma busca progressiva do naturalismo, da tridimensionalidade e da expressão das emoções dos personagens. Entretanto, era essencialmente uma pintura de cunho cristão, pois a Igreja Católica tinha uma enorme influência na região (lembremos que o Vaticano se encontra dentro da Itália e, naquela época, a Igreja era infinitamente mais influente do que hoje).
O Gótico Internacional (assim chamado quando o estilo italiano começou a se popularizar pelos países vizinhos) foi, de toda forma, um grande avanço em relação à anterior Arte Bizantina, que também tratava de temas religiosos, porém de uma forma muito rígida, esquemática, bidimensional e sem expressividade.
Do Gótico Internacional a Pintura Flamenga “rouba” apenas os estudos de tridimensionalidade. Em relação ao naturalismo ou realismo, dá um salto muito além. Isto foi propiciado pelo desenvolvimento, em Flandres, da técnica de pintura a óleo.
Nos afrescos italianos, muito suaves, no fim das contas os personagens, por mais bem desenhados que sejam, ainda se parecem desenhos. Com a força da tinta a óleo, foi possível criar pessoas com “pele de verdade”. Além disto, o poder da Igreja Católica não chegava até Flandres, e os artistas flamengos estavam livres portanto para pintar temas “menos elevados” – seja o retrato de poderosos que financiavam seus retratos para a posteridade, seja a vida cotidiana, do camponês, quando o artista podia deixar sua liberdade voar.
Para entendermos de forma direta as diferenças entre a Pintura Italiana, ou Gótico Internacional, e a Arte Flamenga, que também ficaria conhecida como Renascimento Nórdico, basta olharmos para algumas obras feitas, na época, na Itália e em Flandres.
![GIOTTO di Bondone - O beijo de Judas](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/GIOTTO-O-beijo-de-Judas-1024x998.jpg)
Giotto (c. 1267 – 1337) é considerado, por alguns, o “inventor da Pintura” moderna. No seu famoso “O beijo de Judas”, feito por volta de 1305, vemos todas as características que acima apontamos para o Gótico Internacional: o tema cristão, representado em um afresco, personagens “congestionados” no primeiro plano, rostos que se parecem desenhos e não fotografias…
Compare a obra acima com “O retrato do casal Arnolfini”, de Jan van Eyck:
![VAN EYCK, Jan - Retrato do casal Arnolfini](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/VAN-EYCK-Jan-Retrato-do-casal-Arnolfini-748x1024.jpg)
A obra data de 1434 – feita, portanto, mais de um século depois da de Giotto. Nela vemos como a Arte Flamenga se distanciou da Italiana. Pintura feita a óleo, perfeitamente tridimensional, representado pessoas “comuns” (ricas, sim, mas não santos), apresentadas com um naturalismo extremo.
A Pintura Flamenga se afasta bastante do Gótico Internacional. Entretanto, haverá contato entre as duas. Os italianos aprenderão muito com os flamengos e, absorvendo muitas de suas ideias, eclodirá o Renascimento Italiano, no século 16.
PRINCIPAIS ARTISTAS FLAMENGOS
Temos, aqui no site, várias páginas com as biografias e principais obras dos maiores nomes da Pintura Flamenga. Clique nos links para descobrir os grandes feitos desta maravilhosa época da Arte!
Por ordem cronológica de data de nascimento:
*** Artistas mais importantes, com páginas dedicadas a cada um deles. * Artistas menos famosos, com mini-biografias reunidas em uma única página.
HUBERT VAN EYCK (c. 1366 – 1426). O irmão pouco conhecido de Jan van Eyck (ver adiante). Os dois trabalharam juntos e hoje sabe-se que ao menos uma obra importante atribuída a Jan foi, em grande parte, realizada por Hubert. Entretanto, não há nenhuma obra, atualmente, à qual se possa atribuir a Hubert autoria exclusiva.
*** ROBERT CAMPIN (c. 1375 – 1444). Quase foi esquecido pela História da Arte, seu nome foi recuperado após obras atribuídas a um certo “Mestre de Flémalle” terem sido “devolvidas” ao artista – que é, assim, um dos pais da Pintura Flamenga.
*** JAN VAN EYCK (c. 1385 – 1441). Talvez o maior nome da Pintura Flamenga. Levou a pintura a óleo e o naturalismo a níveis que dificilmente seriam alcançados – e muito menos superados – por seus conterrâneos. Também inventou o “artista”: assinou suas obras e fez autorretratos. Sua obra seria muito influente no Renascimento.
*** ROGIER VAN DER WEYDEN (c. 1399 – 1464) – Aluno de Robert Campin, é outro artista que quase foi apagado da História, por confusão sobre a autoria das obras. Suas obras demonstram um naturalismo impressionante e um domínio da perspectiva e da profundidade inacreditável.
* JACQUES DARET (1404 – 1470) – Discípulo de Robert Campin, trabalhou em Tournai (Bélgica), tornou-se um favorito da corte de Borgonha e da abadia de Arras (França).
* PETRUS CHRISTUS (c. 1410 – 1473) – O artista, que aparentemente esteve por um período em Milão, pode ser a peça que falta no quebra-cabeças da História da Arte: alguns acreditam que ele ensinou a pintura a óleo aos italianos e levou para Flandres a técnica da perspectiva. A fusão das duas escolas daria origem ao Renascimento italiano.
* STEFAN LOCHNER (c. 1410 – 1451) O artista alemão mais famoso até o aparecimento de Albrecht Dürer, fez várias obras típicas do estilo flamengo, porém o seu assustador “O Juízo Final” é um prenúncio do terror que se veria depois em Hieronymus Bosch.
* DIERIC BOUTS (c. 1415 – 1475) Embora pouco conhecido, foi um pintor inovador. Ao contrário de colegas flamengos mais “exibicionistas”, desenvolveu um estilo relativamente sóbrio, contido, apaziguador.
* JEAN FOUQUET (c. 1420 – 1481) O francês fez uma das obras mais estranhas do período, “A Virgem e o Menino”, com anjos azuis e vermelhos, uma Virgem acinzentada com um redondo seio de fora e repleta de simbolismo.
* HANS MEMLING (c. 1435 – 1494) Suas obras menos convencionais são surpreendentes e têm um quê de bizarro. Foi um dos primeiros artistas na História da Pintura a fazer um nu frontal feminino, embora ainda ligado a uma temática moral.
* HUGO VAN DER GOES (c. 1440 – 1482) Um dos responsáveis por apresentar a pintura a óleo para os artistas italianos, o artista teria um fim trágico, enlouquecendo e morrendo após os 40 anos.
* MARTIN SCHONGAUER (c. 1450 – 1491) Foi o gravurista mais famoso do Norte Europeu – até o aparecimento de Albrecht Dürer – que era um fã seu. Porém também fez pinturas cristãs e retratos muito belos.
* QUENTIN MATSYS (1466 – 1529) Além das tradicionais pinturas religiosas, representou cenas cotidianas e personagens grotescos, influenciando Hieronymus Bosch.
*** HIERONYMUS BOSCH (c. 1450 – 1516) Um dos mais inovadores pintores do período, com suas obras em clima de pesadelo, de fim do mundo, como “O jardim das delícias”, mudaria os rumos da Arte Flamenga. A partir dele, esta se preocuparia com cenas do cotidiano, afastando-se dos ideais do Renascimento Italiano.
*** LUCAS CRANACH (“O VELHO”) (1472 – 1533) Um dos mais criativos de seu tempo, transitou por vários estilos. Após a Reforma de Martinho Lutero (de quem era amigo), aproveitou-se da Mitologia Grega para pintar desinibidos nus femininos. Pode ser considerado o primeiro artista “flamengo” a ter colocado os dois pés no Renascimento.
* MABUSE, Jan (1478 – 1532) Um dos primeiros artistas do Norte Europeu a adotar temas claramente do Renascimento, como a Mitologia Grega – acompanhada do nu feminino.
Páginas que agrupam os artistas: * Jacques Daret, Petrus Christus, Stefan Lochner, Dieric Bouts e Jean Fouquet * Hans Memling, Hugo van der Goes, Martin Schongauer, Quentin Matsys e Jan Mabuse.