BIOGRAFIA DE LUCAS CRANACH, “O VELHO”
Lucas Cranach, “O Velho”, nasceu como Lucas Maler, em 1472 em uma cidade da atual Alemanha – chamada Kronach, daí o seu apelido, como era costume na época.
Era filho de Hans Maler – sobrenome que também não era o de família, mas significava “pintor”, sua profissão.
Já o codinome “O Velho” viria quando seu filho, também chamado Lucas Cranach, assumiu o seu ateliê – e este seria chamado de “O Novo” (ver adiante sua biografia e obras).
Da infância e da adolescência de Lucas Cranach pouco se sabe, mas é possível que desde a adolescência tenha aprendido o seu ofício com seu pai.
A Arte de Lucas Cranach, acredita-se, seria muito influenciada por Albrecht Dürer, gravurista que adquiriu muita fama no norte europeu o qual Cranach chegou a conhecer. Cranach, aliás, se aventuraria também na gravura, criando várias séries de xilogravuras (gravuras feitas em madeira) e sendo um pioneiro na técnica de gravação em três cores.
Lucas Cranach, entretanto, ficaria mais conhecido, na posteridade, como um pintor – assim como Albrecth Dürer também fez pinturas, mas ficaria famoso como gravurista. Dividiram a fama em duas partes e cada um pegou a sua.
Lucas Cranach estabeleceu um ateliê muito movimentado, na cidade de Wittenberg. Há mais de mil obras, atualmente, sobreviventes do ateliê. A produção quase industrial fez com que muitas destas obras sejam quase idênticas umas às outras. Obviamente, as que tinham mais sucesso eram reproduzidas mais vezes.
Assim, há várias versões, por exemplo, das deusas mitológicas Vênus e Cupido. Aproveitando as liberdades concedidas pelo Renascimento Italiano, que descobriu que pintando temas da Mitologia Grega poderia apresentar nus femininos sem que isto fosse um grande escândalo para a Igreja, Lucas Cranach abusou desta permissão. Assim, por conta da temática de suas obras, Cranach pode ser considerado, efetivamente, um dos primeiros representantes do Renascimento Norte-europeu (ou Nórdico).
Na verdade, o norte europeu já se libertava da Igreja Católica de outra maneira: através da Reforma Protestante. Marinho Lutero, um monge, catalisando uma série de descontentamentos com as práticas dos líderes católicos, em 1517 pregou as suas “95 teses” na porta da igreja de Wittenberg. Iniciava-se a chamada Reforma, onde uma das ideias centrais era que o homem comum era igual a um sacerdote, perante Deus. Lucas Cranach era amigo de Lutero e provavelmente, como artista, entendeu o que a Reforma significaria: libertação total dos dogmas da antiga Igreja. Entretanto, Cranach não se tornaria um desgarrado total – adotando o nascente luteranismo, ele ajudaria, com sua Arte, a pregar a novidade: de que a crença era o que importava para a salvação.
O retrato de Matinho Lutero que aparece em todos os livros de História, aliás, foi pintado por Lucas Cranach. O pintor, inclusive, seria testemunha do casamento de Lutero, em 1525 – com Catarina von Bora, uma ex-freira pobre que vivia de favor na casa de Cranach. Sim, na nova religião, pastores podiam se casar e, diz-se, Lutero se casou não tanto por amor a Catarina, mas mais para irritar o papa… Cranach também retrataria Catarina.
Com o ateliê a todo vapor, Lucas Cranach enriqueceu e se tornou um prestigiado membro da sociedade local, reconhecido como grande erudito, escolhido como membro do Conselho da cidade… O pintor foi chamado inclusive para retratar a corte do príncipe da Saxônia, Frederico III, “O Sábio” – que era um entusiasmado caçador e deve ter gostado de ver, no fundo das obras do artista, a representação de animais e paisagens da região – antes de Cranach, nenhum artista dava muita importância à representação da natureza.
O príncipe Frederico deu a Cranach o direito de usar um brasão, do qual o artista adaptou uma “assinatura”, com um dragão segurando um anel, a qual ele escondeu em várias obras, como uma espécie de certificado de procedência. Sem dúvida, uma das assinaturas mais interessantes da História da Pintura…
Lucas Cranach se casou por volta de 1510. Em 1515 nasce o segundo filho do casal, que receberia o mesmo nome do pai.
Em 1544, Lucas-pai transfere o comando do ateliê para Lucas-filho e se muda para Weimar. Não chega a parar de pintar, mas diminiu o ritmo.
Lucas Cranach morreria em 1553.
OBRAS DE LUCAS CRANACH, “O VELHO”
Lucas Cranach pintaria cenas cristãs típicas, especialmente nos primeiros anos de carreira. Porém não seria por estas obras que o artista ficaria mais conhecido, tanto em seu tempo quanto na posteridade.
Uma das obras mais famosas de Lucas Cranach é “A fonte da juventude”.
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A obra foi feita em 1546 e mede 1,86 por 1,20 metros. Em óleo sobre madeira, está na Gemäldegalerie, em Berlim (Alemanha).
A cena deve algo às bizarrices de Hieronymus Bosch. Uma carroça cheia de velhas chega pela esquerda – com uma agarrada ao pescoço de um homem, levada como se fosse um carrinho de mão, talvez não conseguisse mais andar. Uma chega literalmente num carrinho de madeira. Na piscina permite-se, aparentemente, apenas mulheres. Elas nadam, brincam -e algumas parecem fazer algo mais do que isto. Elas saem da fonte rejuvenescidas – e entram em uma tenda misteriosa. Uma festa, com um banquete, lhes aguarda. Na fonte há uma estátua de Vênus e, portanto, o banho pode ser chamado também de “Fonte do Amor”.
Afora a cena principal, reparar no trato que Lucas Cranach dá à paisagem – à esquerda, mais tenebrosa, representando as dificuldades da velhice; à direita, mais alegre, representando as doçuras da juventude. Quando o artista fez a obra, já tinha entregado o ateliê para o seu filho e talvez refletisse, sem esperanças, sobre a sua própria velhice, que chegava.
Vênus era um tema recorrente na obra de Lucas Cranach. Inúmeras versões de “Vênus e Cupido roubando mel” saíram de seu ateliê.
A versão acima foi feita por volta de 1525.
A razão de haver tantas versões da obra é óbvia. Tantas foram feitas porque fez muito sucesso. Muito sucesso fez porque representava um nu frontal feminino, com a genitália muito mal escondida. Quem tinha condições financeiras de pagar por uma pintura de Lucas Cranach queria uma cópia. A Reforma Protestante fez com que muitos patronos não quisessem mais obras cristãs clássicas. A Mitologia Grega deu a pintores e seus clientes a desculpa perfeita para a produção deste tipo de obra.
Para que não se fique com uma ideia (muito) errada de Lucas Cranach, entretanto, encerramos esta breve exposição de suas obras com uma comportada – na verdade, sacra.
Feita em 1510, “A Madona e o Menino” retoma o tema mais tradicional de todos, na História da Pintura até então.
A obra está no Museu Arquidiocesano de Wroclaw, cidade polonesa. Nela se vê o que a Arte Flamenga tem de melhor – a representação límpida e vívida dos personagens – à qual se adiciona a obsessão de Lucas Cranach com a paisagem.
Lucas Cranach, “O Velho”, portanto, transitou por vários temas e por várias abordagens técnicas. Foi um pintor muito criativo, muito inventivo, e tanto o seu sucesso em vida quanto a sua preservação na História da Arte foram merecidos.
LUCAS CRANACH, “O NOVO”
Enquanto o seu pai é citado em quase todo livro de História da Arte, Lucas Cranach, “O Novo” (1515 – 1586), não aparece em quase nenhum. Isto porque, embora em vida o ateliê que herdou do pai tenha obtido relativo sucesso financeiro, não se considera que o filho tenha sido um grande inovador como “O Velho”.
Ironicamente, a obra de Lucas Cranach, “O Novo”, mais conhecida é justamente o retrato que fez de seu pai – que aparece na abertura deste texto e que aparece justamente em todo livro de História da Arte que retrata os artistas biografados…
Seu irmão Hans também trabalhava no ateliê do pai, até que, após sua súbita morte com pouco mais de 20 anos, “O Novo” assume a maior parte dos encargos.
Embora nunca tenha se tornado pintor oficial de alguma corte, “O Novo” pintou vários cortesãos, príncipes etc. Também teve uma carreira política de destaque em Wittenberg.
Para que se faça alguma justiça a Lucas Cranach, “O Novo”, escolhemos aqui uma de suas mais bem feitas obras, “Cristo e a mulher pega em adultério”.
A obra, feita em óleo sobre madeira, mede 123 por 48 centímetros e está no museu Hermitage, em São Petersburgo (Rússia).
Em 1514, o artista se casou e teve quatro filhos. Nove anos depois, a esposa faleceu e ele se casou novamente, tendo mais cinco filhos, sendo um Augustin Cranach, que se tornou pintor de algum renome e ainda manteve o nome da família importante por mais uma geração entre os alemães – embora hoje, mesmo na Wikipedia alemã não mereça mais do que uns cinco parágrafos.
Tudo bem, pois “O Velho”, com sua muito criativa obra, já havia garantido que o sobrenome Cranach fosse eternizado na História da Pintura.
Saiba mais:
O pintor das obras mais estranhas e assustadoras da época: HIERONYMUS BOSCH.
Biografia e obras dos pais da Pintura Flamenga: ROBERT CAMPIN, ROGIER VAN DER WEYDEN E JAN VAN EYCK.
TUDO sobre a PINTURA FLAMENGA.