Não deve haver uma pessoa no mundo que nunca tenha visto por aí uma reprodução do quadro “O beijo”, do pintor austríaco Gustav Klimt. De fato, é a obra mais conhecida do artista e uma das mais famosas da História da Arte.
![Gustav KLIMT - O beijo [detalhe]](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/Gustav-KLIMT-O-beijo-detalhe.jpg)
Klimt, entretanto, tem outras obras bastante conhecidas, como “Judith I” e o “Retrato de Adele Bloch-Bauer I”. Neste texto, mostraremos estas e algumas outras obras do artista, menos conhecidas, porém igualmente bonitas ou instigantes, algumas das peças mais importantes e representativas de toda a sua produção.
As pinturas vêm em ordem cronológica e, para cada uma delas, fornecemos a ficha técnica, alguns comentários e curiosidades.
O ARTISTA GUSTAV KLIMT
Antes de suas obras, uma apresentação muito breve da vida e da carreira do artista.
O pintor austríaco Gustav Klimt (1862 – 1918) foi um dos artistas mais importantes do início do século 20 e um dos principais nomes do movimento artístico que seria chamado de Simbolismo – que buscava inspiração em mitos, sonhos, instintos e nas emoções dos indivíduos.
![Gustav KLIMT](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/Gustav-KLIMT-1.jpg)
Antes disto, entretanto, Gustav Klimt foi o criador, no final do século 19, de um grupo chamado Secessão de Viena, que visava romper com as amarras da Arte Clássica. Nesta fase, Klimt foi um adepto da Art Nouveau, de característica decorativa, que buscava a harmonia e a beleza através de formas curvas e alongadas.
O próprio Klimt romperia com o grupo e entraria então na sua chamada “Fase Dourada”, na qual foram feitas suas obras mais importantes.
Em vida, Gustav Klimt foi muito criticado, especialmente pela sensualidade de suas obras. Mas também foi amado por boa parte do público. O pintor morreria no final da Primeira Guerra Mundial, com 55 anos, provavelmente vítima da Gripe Espanhola.
Para saber mais sobre o artista, veja sua biografia completa: GUSTAV KLIMT.
Vamos, enfim, às suas obras mais importantes…
OBRAS DE GUSTAV KLIMT
“Quem quiser saber algo sobre mim deve olhar com cuidado para minhas telas e tentar ver nelas o que eu sou e o que quero fazer.”
(Gustav Klimt)
“JUDITE E A CABEÇA DE HOLOFERNES”
[Clique nesta e nas próximas reproduções das obras de Klimt para ampliá-las e ver seus detalhes.]
Datando de 1901, “Judite e a cabeça de Holofernes” é também conhecida como “Judith I”, já que oito anos depois seria pintada uma segunda versão do tema.
“Que cabeça?”, poderão perguntar alguns. De fato, a mulher retratada é tão bela que mal reparamos a cabeça de Holofernes no canto inferior direito da obra.
A história que este quadro ilustra está na “Bíblia”, no “Livro de Judite”.
Judite é uma mulher judia, sábia, que se utilizaria de sua beleza e de seu charme sedutor para acabar com a vida de Holofernes, o general dos assírios, povo que oprimia Israel.
Judite se enfeita toda antes de ir encontrar Holofernes. Ajeita o cabelo, coloca um diadema, “veste-se como para uma festa”. Coloca colar, brincos, braceletes, anéis. O Senhor aumenta-lhe a beleza, pois “tudo aquilo procedia não de uma paixão má, mas de sua virtude”. Assim, apareceria aos olhos de todos “com um encanto incomparável”. Sua criada levava vinho, grãos torrados, figos secos, pão e queijo.
Holofernes se apaixona por Judite – porém uma noite se embriaga de vinho. É a chance de Judite. Ela reza, em lágrimas: “Senhor, dai-me força! Olhai agora o que vão fazer minhas mãos.” Então pega uma espada que estava próxima ao leito de Holofernes, segura os cabelos do general e lhe corta a cabeça.
Judite sai da tenda e entrega a cabeça a sua serva. As duas saem como se fossem orar e retornam para sua cidade.
A história de Judite e Holofernes já havia sido retratada por vários outros artistas antes de Klimt – como Michelangelo, no teto da Capela Sistina. Contudo, ninguém nunca havia transposto a narrativa para a tela de forma tão sensual!
Observe, por exemplo, a “Judite com a cabeça de Holofernes” do pintor alemão Lucas Cranach, “O Velho” (1472 – 1553).
![CRANACH, Lucas [O Velho] - Judite e a cabeça de Holofernes](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/CRANACH-Lucas-O-Velho-Judith-e-a-cabeca-de-Holofernes.jpg)
A pintura é assustadora. É quase impossível não ter medo do olhar de psicopata da Judite de Cranach. Ao mesmo tempo, é quase impossível não se seduzir pelo olhar quase em êxtase da Judite de Klimt!
Porém, Cranach não foi o único a focar na agressividade da cena. Pelo contrário, a grande maioria das suas representações anteriores, como as de Caravaggio e de Artemísia Gentileschi, segue o padrão. Já a Judite de Klimt aparenta segurar a cabeça do homem morto com carinho!
Esta pintura ajuda a entendermos algumas acusações que pesaram sobre Gustav Klimt, como as de imoralidade e perversão. Mas talvez Klimt tenha captado algo na narrativa de Judite que outros artistas não tenham percebido – ou não tenham ousado representar.
Embora seja uma história bíblica, com ensinamentos morais, a narrativa, afinal, é uma história de sedução! Que termina, sim, com uma cabeça cortada carregada em uma sacola, mas ao menos metade do “conto” é sobre como Judite era bonita, como se enfeitou, com encantava a todos… É muito mais fácil imaginarmos, assim, Holofernes se apaixonando pela Judite de Klimt do que pela de Cranach!
Fora todas as críticas relacionadas à sensualidade das obras de Gustav Klimt, neste quadro podemos observar a essência do movimento artístico conhecido como Simbolismo, do qual o artista foi um dos seus maiores representantes, na Pintura. O Simbolismo não estava preocupado em mostrar as coisas “como elas são”. Suas fontes iam da Mitologia Grega e da Bíblia até os sonhos e os instintos individuais. Todo o ouro em volta da Judite de Klimt faz com que esta mulher se torne um símbolo de algo desejável.
E talvez fosse mesmo, ao menos para Klimt. Os estudiosos da obra de Gustav Klimt acreditam que a modelo que posou para o quadro foi Adele Bloch-Bauer, que aparece em um outro quadro muito famoso do artista (ver adiante) e supostamente era amante do pintor.
Já a “Judith II” de Klimt parece mesmo mais preocupada em cortar cabeças.
“Judith I” mede 42 por 84 centímetros e está na Österreichische Galerie, no Palácio Belvedere, em Viena. “Judith II” também tem 42 centímetros de largura, mas é bem mais alta, com 1,78 metros verticais, e se encontra na Galleria Internazionale D’Arte Moderna Di Ca’ Pesaro, em Veneza (Itália).
Vale apontar ainda que, embora “Judith II” seja circundada por uma larga moldura pintada de amarelo-dourado, Gustav Klimt, ao realizar esta obra, já havia parado de usar o ouro como material para suas pinturas.
Já “Judith I” chegou a ser chamada de “Salomé”, até que Klimt pediu a seu irmão que gravasse o nome da tela na moldura. Salomé também é uma personagem bíblica – que, segundo nos conta o livro sagrado, pediu a cabeça de São João Batista (e recebeu) – cena que também já havia sido retratada várias vezes na História da Pintura.
“AS TRÊS IDADES DA MULHER”
Obra de 1905, “As três idades da mulher” mede 1,80 por 1,80 metros.
A obra parece uma resposta de Gustav Klimt àqueles que apontavam em suas obras um excesso de erotismo. De fato, há três mulheres nuas na cena, porém não há nada de sensual no quadro. Pelo contrário, apesar da beleza que pode ser vista na jovem adulta, a velha parece estar ali para nos mostrar, com um excesso de realismo, a inevitável decadência da carne.
1905 é também o ano em que Gustav Klimt rompe com a Secessão de Viena. O grupo era muito ligado à Art Nouveau, que se pautava pelo efeito decorativo, harmônico, das obras que produzia. Em “As três idades da mulher” talvez Klimt esteja querendo mostrar que a sua obra não visava apenas embelezar o mundo.
A obra se encontra em um museu em Roma (Itália): a Galleria Nazionale d’Arte Moderna e Contemporanea. A pintura ganhou o grande prêmio da Exposição Universal de 1911, ocorrida justamente naquela cidade italiana, e logo em seguida a instituição adquiriu a tela.
“RETRATO DE ADELE BLOCH-BAUER I”
Adele Bloch-Bauer era uma socialite vienense cujo retrato Gustav Klimt fez não apenas uma, mas duas vezes. Mais do que isto, estudiosos da obra de Klimt acreditam que Adele é a modelo que dá rosto à também muito famosa pintura de Klimt “Judite e a cabeça de Holofernes” (ver acima) e também a “Pallas Athena”, obra de 1898. Há uma crença entre os historiadores da Arte de que Adele fosse não apenas a modelo preferida de Klimt, mas sua amante.
Iniciado em 1903, “Retrato de Adele Bloch-Bauer” só foi finalizado em 1907. Tamanha demora talvez demonstre que o artista sabia estar realizando, centímetro por centímetro, uma obra-prima. Ou talvez aponte para o sentimento do próprio artista, um desejo de homenagear profundamente uma mulher que amava? Especulações, apenas (Klimt não falou ou escreveu muito sobre suas obras e menos ainda sobre sua vida particular).
“Retrato de Adele Bloch-Bauer” mede 1,40 por 1,40 metros e está na Neue Galerie, em Nova York (Estados Unidos).
Se olharmos para o segundo retrato de Adele (abaixo) apenas pela ótica dos sentimentos de Klimt, poderíamos pensar que a paixão estava minguando, já que ele parece bem menos exuberante do que o “Retrato de Adele Bloch-Bauer I”.
Especulações, apenas. Na verdade, o estilo do segundo retrato de Adele, feito em 1912, apenas reflete as preocupações artísticas de Klimt na época. O pintor então experimentava com influências diferentes, como o Expressionismo de Vincent van Gogh.
“Retrato de Adele Bloch-Bauer II” mede 1,20 por 1,90 metros e também está no Palácio Belvedere.
“Retrato de Adele Bloch-Bauer I” foi roubada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. A luta de uma sobrinha de Adele contra o Estado austríaco, na tentativa de recuperar o quadro para a família, foi retratada no LIVRO “A DAMA DOURADA” (no link, resumo do livro, onde comprar etc.), que virou o FILME “A DAMA DOURADA” (no link, sinopse, trailer, onde ver o filme gratuitamente etc.). Em um post especial contamos toda esta mirabolante história: “A DAMA DOURADA”: GUSTAV KLIMT, ADELE BLOCH-BAUER E OS NAZISTAS.
“DANAË”
“Danaë” certamente é uma das pinturas mais provocadoras do pintor Gustav Klimt. Talvez, entretanto, não tenha gerado tanto escândalo quanto outras obras suas porque veio ao mundo apenas em 1907 quando os críticos já estavam começando a aceitar a “rebeldia” do artista – acostuma-se com tudo, nesta vida, e a função dos artistas pioneiros é justamente esta: servir de “saco de pancadas” para que os que venham depois desfrutem da liberdade que aquele conquistou para si e para estes…
Por que “Danaë” deveria ser tão escandalosa? Porque praticamente representa um ato sexual! Metaforicamente, claro, como faria todo bom artista adepto do Simbolismo.
Na Mitologia Grega, Danaë foi aprisionada em uma torre por seu pai. Lá, foi visitada por Zeus, o maior dos deuses gregos. A pintura de Klimt mostra a visita de Zeus a Danaë: o deus é representado pelo jorro dourado entre as pernas de Danaë! Pouco depois da visita de Zeus, Danaë daria luz a um filho, Perseu.
Quem não soubesse o título da tela de Klimt e a história de Danaë poderia pensar que a obra representa um momento terno, uma mulher repousando, talvez dormindo, sonhando… Quando sabemos o que ela representa (e o Simbolismo é justamente isto, o ocultar/revelar significados ocultos atrás de cenas e objetos aparentemente sem mistérios), passamos a ver que Danaë parece à beira do gozo!
“Danaë” mede 83 por 77 centímetros (uma obra pequena para os padrões de Klimt, portanto) e está no Leopold Museum, em Viena.
![Gustav KLIMT [assinatura]](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/Gustav-KLIMT-assinatura.jpg)
“O BEIJO”
“O beijo”, de todas as obras de Gustav Klimt, sem dúvidas é a mais famosa e, também sem dúvidas, é uma pintura tão conhecida mundialmente que seria “covardia” dedicarmos apenas algumas linhas a ela. Assim, preparamos um texto apenas para esta obra.
Para saber TUDO sobre a obra (sua história, valor, curiosidades, releituras etc.), veja: “O BEIJO”, de GUSTAV KLIMT.