Não há uma data clara para apontarmos o início do Renascimento, assim como não há uma distinção única que separe artistas do Renascimento do chamado “Pré-Renascimento”. Há alguns artistas que “são” o Renascimento, como Sandro Botticelli, Leonardo da Vinci e Michelangelo. Assim, aqui, consideraremos como artistas do Pré-Renascimento os que vieram antes destes – e que já se distanciam bastante do estilo dominante anterior, o chamado “Gótico Internacional”. A classificação dos artistas expostos aqui neste texto como pré-renascentistas é, portanto, um pouco arbitrária, porém infelizmente não há como ser diferente.
Os artistas expostos aqui não são muito famosos, atualmente, porém todos foram importantes no desenvolvimento da Arte da Pintura. Da Vinci não surge do nada! Portanto, aqui resgatamos, brevemente, as biografias destes artistas e mostramos ao menos uma obra de cada, na esperança de resgatarmos ao menos um pouco da relevância que estes pintores merecem, na História da Arte.
FRA FILIPPO LIPPI
O pintor italiano Fra Filippo Lippi, nascido por volta de 1406, talvez hoje seja mais lembrado por ter sido mestre de Sandro Botticelli, criador da famosíssima obra “O nascimento de Vênus”.
Entretanto, tanto sua carreira quanto sua vida foram interessantes e merecem ser contadas.
![LIPPI, Fra Filippo](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/LIPPI-Fra-Filippo-Auto-retrato.jpg)
Na verdade, sobre os anos de formação de Fra Filippo Lippi pouco se sabe. Pela análise de sua obra, entretanto, deduz-se a influência de escultores como Donatello e de pintores como Masaccio e Fra Angelico. Mas Fra Filippo Lippi dá um salto além e, por isto, geralmente não é classificado como um artista do Gótico Internacional, mas já como um do início do Renascimento.
Fra Filippo Lippi foi um dos primeiros mestres italianos a pintar retratos e também um dos primeiros a incorporar, no seu país, o detalhismo que era observado nas pinturas dos artistas flamencos.
Em “Madona com o filho e dois anjos” (abaixo), pintada entre 1460 e 1465, é impressionante o efeito de transparência com que Fra Filippo Lippi consegue representar o véu da Virgem Maria. Transparência que seria vista também no trabalho de Botticelli.
![LIPPI, Fra Filippo - Madona com o filho e dois anjos](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/LIPPI-Fra-Filippo-Madona-com-o-filho-e-dois-anjos-704x1024.jpg)
A obra foi feita em têmpera sobre madeira, mede 62 por 95 centímetros e, como tantas obras-primas do período, se encontra atualmente na Galleria degli Uffizi, em Florença.
Em 1452, Fra Filippo Lippi começou a pintar uma enorme série de afrescos para a catedral da cidade de Prato. Só terminaria o trabalho 14 anos depois!
Em uma série de afrescos para a catedral de Spoleto, iniciada em 1466, há “A coroação da Virgem”, que muitos consideram sua obra-prima. Fra Filippo Lippi morreu, entretanto, em 1469 e este trabalho seria completado por seu filho, Filippino Lippi.
Na metade do século seguinte, o exagerado Giorgio Vasari, em “Vidas dos artistas”, diria de Fra Filippo Lippi: “Ninguém o superou na sua época, e muitos poucos na nossa.”
Sobre a vida particular de Fra Filippo Lippi, ao menos uma história merece atenção. Fra Filippo Lippi era monge, tendo vivido em um mosteiro desde que se tornou órfão, aos oito anos de idade… mas isto não o deteve de, em 1956, quando contava com cerca de 50 anos, raptar uma freira! Lucrezia Buti, que vivia no convento de Prato, foi levada e, com o casal, viveriam também a irmã dela e várias outras freiras. Embora tenha desfeito os votos que fez no mosteiro, para poder casar-se com Lucrezia, a união nunca foi oficializada. Ainda assim, a esposa serviria de modelo para várias Madonas que Fra Filippo Lippi pintou. O casal teria dois filhos: Filippino Lippi, que se tornaria famoso (ver adiante), e uma garota.
FILIPPINO LIPPI
Filippino Lippi era filho do pintor Fra Filippo Lippi – o monge que fugiu de um mosteiro e “roubou” uma freira (ver acima). O monge, que era um artista reconhecido em sua época e ainda o é atualmente, teria um casal de filhos e o garoto manteria a tradição da Pintura, na família.
![LIPPI, Filippino - Auto-retrato](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/LIPPI-Filippino-Auto-retrato-742x1024.jpg)
Se hoje Filippino Lippi não é tão reconhecido como o pai, isto talvez seja por não ter uma biografia tão interessante como este – querendo nós ou não, isto importa, sim, para a fama.
Fra Filippo Lippi morreu quando Filippino Lippi tinha apenas 12 anos – na época, já era aprendiz do pai e terminou um trabalho deixado incompleto por este!
No ano seguinte, Filippino já estava na oficina de Sandro Botticelli – que havia sido aluno de seu pai. Se a genética já era favorável – para a Pintura, ao menos – as lições daquele que seria considerado um dos maiores nomes do Renascimento só fez ajudar a florescer o talento de Filippino.
Filippino Lippi teria uma carreira muito produtiva, executando várias encomendas importantes. Embora tenha passado boa parte de sua vida em Florença, em Roma deixou-se influenciar pela Antiguidade, que inseriu em algumas obras suas, como outros artistas do Renascimento.
Cabe aqui vermos ao menos uma obra do artista. A mais conhecida, atualmente, é “A aparição da Virgem para São Bernardo”.
[Clique na obra para ampliá-la e ver seus detalhes.]
O óleo sobre madeira mede 1,95 por 2,10 metros e foi feito em 1486. Está na Abadia Florentina.
Tudo na pintura é encantador. A começar pelas dobras e sombras do tecido que veste São Bernardo até as incomuns pedras que servem de fundo à cena, assim como os delicados rostos dos anjos que acompanham a Virgem.
Filippino Lippi, nascido em 1457, morreria em 1504.
PIERO DELLA FRANCESCA
Piero della Francesca (cujo nome de batismo era Piero di Benedetto del Franceschi), italiano, nascido por volta de 1415/20, estudava pintura desde os 15 anos – provavelmente em Florença, mas não se sabe bem com quem – o que é perceptível na sua obra é a influência de artistas como Tommaso Masaccio e Paolo Uccello.
![DELLA FRANCESCA, Piero - Autorretrato [detalhe de 'A Ressurreição']](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/DELLA-FRANCESCA-Piero-Autorretrato-detalhe-de-A-Ressurreicao-.jpg)
Piero della Francesca, entretanto, não parou por muito tempo em local algum: levou uma vida quase nômade, trabalhando em Roma e outras cidades italianas, mas sempre voltando por um período para Sansepolcro, sua cidade natal.
Para ganhar a vida, o artista pintava temas religiosos.
A maior parte de suas obras, infelizmente, se perdeu, porém ainda restam algumas obras-primas, feitas quando era mais velho.
Inspirado por artistas flamengos, Piero della Francesca adotou o minucioso detalhismo naturalista em suas pinturas. Porém sua paleta de cores era sutil.
“A Ressurreição de Cristo”, feito por volta de 1463, para o Palazzo Communale de Sansepolcro, é considerada o ápice de sua carreira, sua obra mais importante.
![DELLA FRANCESCA, Piero - A Ressurreição de Cristo](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/DELLA-FRANCESCA-Piero-A-Ressurreicao-de-Cristo.jpeg)
O afresco, feito em têmpera, data de 1463 e mede 2 por 2,25 metros. Observe que o seu suposto autorretrato foi retirado desta pintura.
Já “Flagelação de Cristo”, pintado por volta de 1460, até hoje os críticos tentam entender. Cristo sofre ao fundo da cena, enquanto no primeiro plano três homens conversam, aparentemente ignorando a dor de Jesus.
![DELLA FRANCESCA, Piero - Flagelação de Cristo](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/DELLA-FRANCESCA-Piero-Flagelacao-de-Cristo-1024x746.jpeg)
A pintura mede 82 por 59 centímetros e foi feita em têmpera e óleo sobre madeira. Está na Galleria Nazionale delle Marche, em Urbino (Itália).
O artista, na obra, parece mais interessado em mostrar o domínio da perspectiva e da sua capacidade de representar detalhes arquitetônicos do que em retratar a cena bíblica – porém talvez exista algum significado oculto em sua pintura…
A grande inovação trazida por Piero della Francesca para a pintura foi o estudo aprofundado da perspectiva. Antes da adoção da perspectiva os quadros pareciam bidimensionais, como se toda a cena se passasse em um só plano. Com a perspectiva, vem a tridimensionalidade, as cenas ganham volume.
Talvez a obra de Piero della Francesca que mais mostre sua habilidade neste campo – e uma de suas pinturas mais bonitas – seja sua “Madona com o Menino”, também conhecida como o “Retábulo de Montefeltro”.
[Clique na imagem para ampliá-la e ver seus detalhes.]
A obra mede 1,73 por 2,51 metros, foi feita em óleo sobre madeira e está na Pinacoteca di Brera, museu em Milão (Itália).
O que poucos sabem é que Piero della Francesca era um grande matemático, especialmente interessado em geometria espacial. O artista inclusive escreveu três tratados matemáticos e, mais do que isto, o livro “Sobre a perspectiva na pintura”, que seria muito influente na Arte renascentista.
Não era fácil, entretanto, desenhar corretamente a perspectiva em afrescos, que secam rapidamente. Para conseguir com que a argamassa não secasse tão rapidamente, Piero della Francesca desenvolveu um truque: à noite, aplicava panos molhados no reboco.
Há uma discussão sobre quem realmente “descobriu” a perspectiva linear, mas segundo alguns não foi nenhum pintor, e sim o arquiteto Filippo Brunelleschi.
Adquirindo aos poucos o domínio da técnica da pintura a óleo, Piero della Francesca pintou também alguns retratos que lembram um pouco o estilo flamengo.
Segundo Giorgio Vasari, Piero della Francesca foi perdendo a visão e, por isto, nos últimos anos de vida, cego ou praticamente, parou de pintar – foi quando escreveu boa parte dos seus tratados. Porém o artista deixaria discípulos, como Perugino.
Piero della Francesca morreu em 1492. Mais exatamente, no dia 12 de outubro – por coincidência, o dia em que Cristóvão Colombo descobria a América, evento que, para muitos historiadores, marca do fim da Idade Média e o começo da Idade Moderna.
Apesar de muito requisitado em sua época, após a sua morte Piero della Francesca cairia no esquecimento até o século 19, quando então foi resgatado pela História da Arte e hoje é considerado um dos grandes nomes do Quattrocento.
BENOZZO GOZZOLI
Benozzo Gozzoli não é, hoje, um nome relativamente desconhecido apenas – é quase um nome obscuro na História da Arte. Porém em sua época o artista obteve muito reconhecimento.
![GOZZOLI, Benozzo - Autorretrato](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/GOZZOLI-Benozzo-Autorretrato.jpg)
Nascido Benozzo di Lese, por volta de 1420, o artista foi pupilo do ainda hoje famosíssimo Fra Angelico – segundo conta o pintor e biógrafo Giorgio Vasari. Relata-se, inclusive, que Gozzoli teria auxiliado Fra Angelico na pintura dos famosos afrescos do Convento de São Marcos, em Florença.
Benozzo Gozzoli era filho de um alfaiate que morava em um pequeno vilarejo italiano. Quando tinha por volta de sete anos, entretanto, sua família se mudou para Florença.
No começo de seu treinamento – que naquela época geralmente iniciava-se no começo da adolescência – Benozzo Gozzoli foi treinado tanto na ourivesaria quanto na pintura, o que também aconteceria na biografia de tantos outros artistas do período.
Quando se juntou a Fra Angelico, foi com este para a região de Úmbria e também para Roma, onde trabalharam em uma encomenda do papa Eugênio IV – porém a capela que pintaram seria posteriormente demolida. Tempos depois voltaram a Roma e pintaram na Capela Niccoline, agora já para o papa Nicolau V.
Fra Angelico, uns 25 anos mais velho do que Benozzo Gozzoli, morreria em 1455, quando o pupilo tinha por volta de 35 anos. Mas o aluno já havia aprendido muito – tanto que, em algumas obras atribuídas a Fra Angelico há certa dúvida sobre qual parte de trabalho poderia ser, na verdade, de Gozzoli.
Benozzo Gozzoli se estabeleceria, então, em Florença.
A obra mais famosa, ou mais reconhecida, atualmente, de Benozzo Gozzoli, é a série de afrescos para a chamada “Capela dos Magos”, no Palazzo Medici-Riccardi. A mais famosa das pinturas desta série é “A viagem dos Reis Magos”, concluída por volta de 1460.
[Clique na imagem para ver os detalhes da pintura.]
Há vários retratos da poderosa família Médici, na pintura, assim como o autorretrato do pintor – seu nome está escrito no “chapéu” vermelho que cobre a cabeça de uma figura.
E o rei mago de túnica dourada seria, diz-se, Lorenzo de Médici.
Hoje talvez achemos a pintura de Benozzo Gozzoli “poluída”, sobrecarregada, exagerada. Os olhos não conseguem descansar!
Na época, entretanto, foi um sucesso e o artista receberia várias encomendas, depois de sua execução.
Esta obra ainda nos faz pensar que talvez Benozzo Gozzoli ainda estivesse mais para o Gótico Internacional do que para o Renascimento. Isto nos mostra como a evolução, na História da Pintura, não segue uma direção inequívoca, sem volta…
Em 1463, provavelmente por medo da praga, doença que vinha dizimando a Itália, Benozzo Gozzoli se mudou para a pequena San Gimignano, onde continuou a pintar, bastante. Gozzoli, aliás, é um dos maiores produtores de afrescos de sua época.
Em 1469, o artista foi para Pisa, onde receberia uma encomenda gigantesca, retratando cenas do Velho Testamento, que levaria muitos anos para ser concluída. Benozzo Gozzoli permaneceria em Pisa até 1485.
Dois anos depois, Gozzoli morreria, próximo a Florença – provavelmente pego pela peste. Porém a cidade de Pisa providenciaria um túmulo para o artista no edifício onde ele fez os murais, chamado de Campo Santo.
ANTONELLO DA MESSINA
Embora não seja em todo livro de História da Arte que se veja o nome de Antonello da Messina, a sua importância para o Renascimento é enorme! Afinal, a Da Messina é atribuído nada menos o mérito de ter levado a técnica da pintura a óleo para a Itália.
![DA MESSINA, Antonello - Retrato de um homem [autorretrato]](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/DA-MESSINA-Antonello-Retrato-de-um-homem-autorretrato--735x1024.jpg)
Quem lhe dá este crédito é o maior biógrafo daquele tempo, Giorgio Vasari. Entretanto, hoje se sabe que o escritor tomou muitas lendas como realidade e o trabalho dos historiadores de Arte, hoje, é separar uma coisa de outra.
Conta a História que os irmãos Hubert e Jan van Eyck desenvolveram o método para que a pintura a óleo secasse na velocidade adequada, permitindo que o artista trabalhasse com cuidado na obra. Diz ainda esta História que Antonello da Messina, que estava trabalhando em Bruges, cidade de Flandres onde os irmãos estavam, descobriu o método deles e levou o segredo para a Itália.
A técnica se espalhou entre os artistas italianos, que até então geralmente faziam afrescos com têmpera (à base de ovo), que secava muito rapidamente e não permitia muita dedicação a detalhes da pintura. O desenvolvimento da pintura a óleo na Itália propiciaria o Renascimento.
Ou seja, não seria muito exagero dizermos que, sem Antonello da Messina, não existiria o Renascimento. Ou dizermos que, ao menos, o movimento artístico teria se atrasado bastante…
Verdade ou não a história, é bem contada… Contudo, não há provas, aparentemente, de que Antonello da Messina tenha saído alguma vez da Itália. Talvez seja mais provável, acredita-se hoje, que Da Messina tenha tomado contato com a Pintura Flamenga em Milão. E não através de Jan van Eyck, mas com o maior seguidor deste, na época, Petrus Christus – que, talvez não por coincidência, foi um dos primeiros artistas flamengos a dominar a perspectiva linear adotada pelos italianos. Esta versão da História supõe que Christus pode mesmo ter “pego na mão” de Da Messina e lhe ensinado todos os truques da Arte Flamenga.
O fato concreto é que Antonello da Messina realizou, mesmo, pinturas a óleo e no mínimo é um dos primeiros italianos a se apoiar nesta técnica. E que, após dele, muitos a adotaram. De uma forma ou de outra, portanto, Da Messina acabaria sendo um artista influente e é uma injustiça que seu nome hoje seja pouco lembrado.
Dentre os que reconhecem a importância do artista, ele é conhecido especialmente pelos retratos que realizou, em óleo sobre painel – embora tenha pintado também cenas bíblicas. A bela pintura hoje chamada de “Retrato de um homem” (ver acima) é, supostamente, um autorretrato de Antonello da Messina. A obra mede 25 x 35 centímetros e está na National Gallery, em Londres (Inglaterra).
Aliás, os retratos feitos por Da Messina também lembram os que os artistas de Flandres executavam, na sua preocupação em mostrar a realidade física e psicológica dos retratados, o que é mais um indício da influência destes sobre o italiano.
As pessoas não costumam ser muito bonitas e, portanto, o mais bonito dos retratos de Antonello da Messina seja um idealizado, “A Virgem da Anunciação”.
![DA MESSINA, Antonello - A Virgem da Anunciação](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/DA-MESSINA-Antonello-A-Virgem-da-Anunciacao-e1664388797185.jpg)
A obra data da década de 1470, mede apenas 34 por 47 centímetros e transmite esta paz na Galleria Regionale della Sicilia, em Palermo (Itália).
A pintura é inovadora, ao retratar a Virgem Maria em meio corpo, como em retratos de pessoas reais – e o Arcanjo Gabriel não aparece. E, como entre os artistas flamengos, as cores é que criam o desenho – que, aqui, só é perceptível nos contornos principais da imagem.
Mesmo em pinturas de cunho religioso Antonello da Messina esbanjava o que provavelmente tenha aprendido em Flandres, portanto. E o melhor exemplo disto talvez seja a obra “São Jerônimo em seu estúdio”.
![DA MESSINA, Antonello - São Jerônimo em seu estúdio](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/DA-MESSINA-Antonello-Sao-Jeronimo-em-seu-estudio-808x1024.jpg)
[Clique na imagem para ampliá-la e ver todos os seus detalhes.]
Embora em algumas de suas obras Antonello da Messina ainda mostrasse muito do antigo estilo italiano (as quais optamos por não mostrar aqui), esta poderíamos pensar que foi feita por um pintor flamengo.
O artista consegue fazer com que nos sintamos “espionando” São Jerônimo, através da janela de seu estúdio.
É admirável a paciência com que Antonello da Messina fez ladrilho por ladrilho do piso. Tudo, aliás, é admirável nesta pintura. O volume arquitetônico que o artista conseguiu imprimir com um uso eficiente da perspectiva linear, as sombras formadas pela luz que entra pela janela… e até as linhas escritas nos livros abertos (que quase podemos ler!), considerando-se que a obra tem apenas 36 por 46 centímetros!
E não estranhe se reparar que há um leão (!) na cena. O animal faz parte da História do santo (para conhecê-la, clique aqui ).
A obra também está na National Gallery.
Sobre a vida pessoal de Antonello de Messina, não há muitos fatos mirabolantes, aparentemente.
Nascido na cidade italiana de Messina, por volta de 1430, seu nome de batismo era Antonello di Giovanni di Antonio. Seu pai, Giovanni, era escultor e desde cedo Antonello foi treinado nesta Arte.
Antonello da Messina se casou, teve ao menos um filho, viajou para o continente italiano – a Sicília, onde nasceu, é uma ilha – a trabalho, pintou para nobres e poderosos… e em 1476 retornou para a ilha, morrendo na Messina onde havia nascido, três anos depois, em 1479.
ANDREA DEL VERROCCHIO
Andrea del Verrocchio, nascido Andrea di Michele di Francesco de’Cioni, em 1435, em Florença, na Itália, teve uma carreira eclética, aceitando todo tipo de projeto: funcional, decorativo, escultural…
![VERROCCHIO, Andrea del](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/VERROCCHIO-Andrea-del-811x1024.jpg)
[não encontrada a autoria da pintura acima, supostamente o retrato do artista]
Entretanto, Andrea del Verrocchio não passaria para a História da Arte exatamente por suas obras, mas porque com ele trabalharam dois artistas que têm, hoje, uma fama enorme: Sandro Botticelli, pintor da famosíssima tela “O nascimento de Vênus” e Leonardo da Vinci, autor da ainda mais famosa “Mona Lisa”.
Da Vinci executava suas obras no ateliê de Andrea del Verrocchio. Diz-se que quando a fama de Da Vinci como pintor começou a ofuscar a do seu tutor, este resolveu se dedicar à escultura.
Cabe analisarmos a Pintura do artista para vermos se sua desistência se justifica. Uma de suas obras mais conhecidas é “A Madona com o Menino”.
![VERROCCHIO, Andrea del - A Madona com o Menino](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/VERROCCHIO-Andrea-del-A-Madona-com-o-Menino-739x1024.jpg)
Embora, lado a lado com obras de Leonardo da Vinci, de fato possivelmente acharemos as obras do último mais bem acabadas, Andrea del Verrocchio não era, de forma alguma, um mau pintor.
A pintura acima foi feita em têmpera e óleo sobre madeira, mede 54 por 75 centímetros e está na Gemäldegalerie, em Berlim (Alemanha).
Contudo, de certa forma fez bem, para a Arte, a desistência de Andrea del Verrocchio em relação à Pintura, pois ele teria a oportunidade de mostrar seu talento em outras áreas.
Andrea del Verrocchio, que havia começado a vida como ourives, agora se dedicava à administração de grandes ateliês, onde os artistas inspiravam-se na Arte da Antiguidade.
Com a morte de Donatello, em 1466, Andrea del Verrocchio passa a ser o artista preferido da poderosíssima família Médici que lhe encomendou decoração de ambientes festivos, pintura de retábulos e a composição de mausoléus de mármore. Por volta de 1475, Andrea del Verrocchio fez “O jovem Davi”, escultura em bronze que era uma espécie de desafio póstumo à obra de Donatello feita sobre o mesmo tema, o futuro rei judeu que mataria o gigante Golias.
![VERROCCHIO, Andrea del - Estátua de Davi](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/VERROCCHIO-Andrea-del-Estatua-de-Davi-669x1024.jpg)
Aparentemente, o “inimigo” preferencial de Andrea del Verrocchio não era Leonardo da Vinci, mas Donatello. O artista fez uma estátua equestre do general Bartolomeo Colleoni que superaria, para muitos, a “Gattamelata” de Donatello. Acredita-se que Verrocchio possa ter sido treinado por Donatello e, em parte, isto explicaria a suposta fixação por superá-lo.
Para os críticos, o ápice de sua carreira foi a enorme abóbada, em bronze, feita para a Catedral de Florença, finalizada em 1471.
O artista morreria em 1488. Um crítico de Arte do século 19, diria de Andrea del Verrochio: “Ao lado de Leonardo da Vinci, ele é o maior personagem artístico que já existiu.” (Adolf Bayersdorfer, citado no livro “501 grandes artistas”) Um pouco exagerado, certamente, mas recupera um pouco da importância de um artista que hoje anda bastante esquecido: fala-se demais de Leonardo da Vinci, porém ao analisarmos as obras dos dois veremos que o mais famoso aprendeu muito com Verrocchio.
Saiba mais:
A principal fonte das biografias dos pintores antigos: GIORGIO VASARI, “VIDAS DOS ARTISTAS”.
Veja outras obras famosas que estão em um dos mais importantes museus do mundo: GALLERIA DEGLI UFFIZI.
Vida e obras do mais famoso discípulo de Fra Filippo Lippi: SANDRO BOTTICELLI.