“501 Grandes Artistas”, publicado pela Editora Sextante, escrito por vários autores e editado por Stephen Farthing, é uma obra de consulta.
![501 grandes artistas](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/501-grandes-artistas.jpg)
“501 Grandes Artistas” não é um livro focado em exibir as obras dos artistas listados em suas mais de 600 páginas, mas um trabalho que visa narrar a vida destes artistas. Claro, ocasionalmente são exibidas, em imagens geralmente de tamanho reduzido, obras importantes de alguns artistas, porém não são todos os pintores que têm este privilégio, na obra. E este é um ponto negativo do livro. Se não a única, é a principal queixa que pode fazer o leitor. Obviamente, como todos temos um celular na mão, é muito fácil, atualmente, encontrarmos não um, mas todos os trabalhos de um pintor ou escultor.
E não exatamente uma falha, mas uma característica do livro: quando ele fala em 501 grandes artistas, por “artista” entenda-se apenas: pintor. Alguns escultores mais famosos, como o italiano Donatello ou o romeno Constantin Brancusi, estão listados, mas o livro é basicamente sobre pintores (porém, quando fala dos artistas mais recentes, há muitos adeptos da Arte Conceitual, que faz “esculturas” ou “instalações” com panos, pedaços de madeira, trapos etc.). Esteja avisado.
Pois bem. Nem todo o artista biografado tem uma obra representativa mostrada. E embora seja fácil descobrirmos estas obras na internet, a questão é: se não lermos a biografia do artista, não nos interessaremos em buscar pelas suas obras. E se não nos é mostrada nenhuma obra deste artista, possivelmente não nos interessaremos em ler a sua história…
Como dito, portanto, “501 Grandes Artistas” é um livro de consulta. Para quem não confia muito na internet ou está sem tempo de ler um texto enorme sobre determinado artista na Wikipedia. E, de fato, a internet contém muitas imprecisões ou erros. Um livro como este, entretanto, traz informações mais precisas.
Alguns artistas, menos importantes (não tão “grandes” assim?), têm a sua vida contada em meia página. Outros, em uma. Alguns têm a honra de ganhar duas páginas. Apenas um figurão como Leonardo da Vinci merece quatro páginas.
Há algumas surpresas, entretanto, em “501 Grandes Artistas”. Um artista pouco conhecido atualmente, mas que não deveria ter sido esquecido, como Arshile Gorky, ganha três páginas – duas com sua depressiva biografia (que tragicamente termina em suicídio) e uma com uma reprodução de uma pintura sua.
As biografias em “501 Grandes Artistas” são dispostas em ordem cronológica e começam por três artistas orientais da Antiguidade. Porém logo o editor abandona a ideia do multiculturalismo e, de Cimabue (“o pai da Pintura Moderna”, para alguns) em diante, o foco é mesmo a Arte Ocidental.
A parte mais grossa do livro, com quase 200 páginas, é dedicada a artistas nascidos entre 1800 e 1899 – isto é, no século 19. Esta disparidade se justifica. Foram estes artistas que criaram os movimentos que revolucionariam a Pintura, progressivamente: o Realismo, o Impressionismo, o Expressionismo, o Cubismo etc. até chegarmos ao Abstracionismo e à Arte Conceitual. Aí estão os artistas que todos nós conhecemos. A escolha, do ponto de vista editorial (isto é, econômica) é correta.
Claro que daqui a 200 anos vários nomes deste período terão desaparecido dos livros (que precisarão dar espaço para o que virá), provavelmente sobrando apenas os mais importantes, como Claude Monet e Pierre-Auguste Renoir, Vincent Van Gogh, Pablo Picasso, Salvador Dalí e alguns outros. Outros impressionistas, expressionistas, cubistas e surrealistas desaparecerão.
Porém o livro não foi feito para ser lançado daqui a 200 anos e hoje ainda nos importam nomes como Camille Pissarro, Chaïm Soutine, Georges Braque e René Magritte – triste, mas é verdade da vida: alguns destes nomes serão expulsos dos livros de História da Arte, com o tempo. De toda forma, hoje ainda nos importam.
As últimas 200 páginas do livro são dedicadas a artistas nascidos de 1900 em diante. Estes artistas começam a produzir suas obras importantes, portanto, de 1920 ou 1930 em diante. Porém aí a Arte já estava quase “morrendo”, desde que o francês Marcel Duchamp, com o seu mictório chamado de Arte (a obra “A fonte”, de 1917), liberou o vale-tudo.
Veio a 2a Guerra Mundial e, após ela, um certo desencantamento com o mundo, com o homem, com o futuro. E com a Arte. Claro, ainda surgiriam alguns nomes interessantes, como Jackson Pollock, Andy Warhol e mais alguns outros, porém a verdade – que seja dita – é que estas últimas 200 páginas de “501 Grandes Artistas” são compostas, em grande parte, de biografias de artistas desconhecidos do grande público. Artistas para os quais pequena parte da crítica e grande parte do público “torce o nariz”. Grandes “bobagens” ou embustes revestidos de profundidade filosófica, para alguns.
Na verdade, de alguns destes artistas o grande público já deve ter visto uma ou outra obra – mas não a ligava a um nome familiar. É interessante, portanto, a sensação de “Ah, já vi isto! Não sabia quem era o autor!” Porém, voltamos àquela falha do livro: nem todos os artistas terem ao menos uma obra representativa mostrada. Assim, para o apreciador mediano da Arte, o leitor comum (isto é, nós) esta grande parte final do livro permanece como uma Esfinge. Caso ele queira conhecer artistas que tiveram alguma relevância nas últimas décadas, que faça o esforço de ler sua mini-biografia e ir atrás de suas obras.
Esta escolha editorial, a nosso ver, foi um erro. Pensamos que melhor teria sido algo como “301 Grandes Artistas” (não pode ser um número redondo como 300?), dando mais algum espaço biográfico aos que restassem – e, claro, imagens, afinal é um livro sobre pintores! E que se excluísse sem dó nem piedade artistas do século 20 e 21 que fizeram apenas alguma bobagem “pós-moderna” sensacionalista que um dia apareceu em algum jornal. Pois é bem provável que estes é que não sobrarão mesmo nos livros de História da Arte do futuro…
Aliás, até o passado mais distante poderia ser revisto. Um exemplo qualquer: George Cruikshank, artista do século 19 – menos de mil pessoas pesquisam pelo artista, por mês, no Google da Inglaterr, país onde nasceu. Se nem lá se importam com ele, se ele não aparece em praticamente nenhum outro livro de História da Arte… por que seria importante, “grande”, no resto do mundo? Há alguns outros casos assim em “501 Grandes Artistas”.
A guilhotina editorial, portanto, faria um bem danado à obra – cujo problema, talvez, tenha começado justamente quando decidiram que falaria sobre 501 artistas. Então abriram-se vagas, “cotas”, para qualquer um ser chamado de “grande”.
Por fim, uma outra escolha editorial, desta vez acertada. A edição brasileira do livro expulsa alguns artistas “grandes, mas não tão grandes assim”, para dar lugar a alguns nomes nacionais, como Victor Brecheret, Oswaldo Goedi, Di Cavalcanti, Cildo Meireles etc. São cerca de 20 artistas brasileiros apresentados na obra. Ponto para a editora!
Somados os pontos a favor e os contra, o nosso veredito é: “501 Grandes Artistas” é um livro para se ter em casa, sim. É um livro de consulta, de referência. E, apesar de todas as críticas que fizemos, se o leitor parar um dia para ler sobre os artistas de determinado período, acabará por descobrir artistas que não conhecia e isto quase sempre é um prazer.
Além disto, muito dos mais importantes movimentos artísticos da História não nasceram de forma planejada. Pelo contrário, alguns receberam um nome depois de já terem minguado. Um “movimento” é a soma do trabalho de vários artistas fazendo algo similar em determinada época. Um movimento, portanto, diz respeito a obras. E obras dizem vêm de artistas. Muitos se relacionavam, formavam grupos, trocavam ideias, competiam, rivalizavam. Assim, a leitura consecutiva de várias mini-biografias de determinada época nos ajuda a entender como determinados movimentos emergiram.
E há o caso de “movimentos de um homem só”, como o Pontilhismo, do francês George Seurat (Paul Signac provavelmente será esquecido pela História). Ou o Suprematismo do russo Kasimir Malevich. Se Seurat ou Malevich não tivessem nascido, ou se não tivessem resolvido ser pintores, dois importantes “movimentos” artísticos talvez nunca tivessem existido! Assim, por mais que queiramos estudar a História da Arte de outra maneira, no fim acabaremos em biografias.
É da intenção de um artista, de uma pessoa, que nasce uma obra. É de um conjunto de obras de diversos artistas que nasce um movimento. E é de movimento em movimento que se move a História, inclusive a da Arte. Contudo, quando vamos esmiuçar esta História, inevitavelmente regrediremos às biografias.
Na introdução de “501 Grandes Artistas”, o editor Stephen Farthing relembra que o francês Paul Cézanne, precursor do Cubismo, disse: “O homem precisa permanecer oculto; o prazer tem de ser encontrado na obra.” O editor discorda: “No fim das contas, a história da arte se resume às pessoas: escritores, mecenas, colecionadores, artistas e, por fim, os espectadores – sem as pessoas não há arte.”
Concordamos.
E a verdade é que George Cruikshank (1792 – 1878), caricaturista, que anteriormente “malhamos” e dissemos que não deveria estar em “501 Grandes Artistas”, foi um cara divertido!
![CRUIKSHANK, George - A cólica](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/CRUIKSHANK-George-A-colica.png)
Aparentemente, “501 Grandes Artistas” não está sendo editado mais. Em algumas lojas virtuais, ainda pode ser encontrado o livro em estado de novo, porém bastante caro. Usados em bom estado, porém, têm um preço bem acessível (a partir de ínfimos R$ 16, na data da pesquisa).
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