Todo mundo conhece a história da loucura do pintor holandês Vincent van Gogh, que, em um surto, cortou a própria orelha e, pouco tempo depois, se suicidou. (Se por acaso você não conhece esta história, clique aqui: Vincent van Gogh.)
Entretanto, vários outros artistas apresentaram sintomas graves de transtorno mental. Neste post e nos próximos apresentaremos brevemente dez dos artistas mais “loucos” da História da Arte.
EDMUND MONSIEL
O polonês Edmund Monsiel (1897 – 1962) é um artista bastante obscuro. Até mesmo a sua página na Wikipedia polonesa é bem curta, tendo apenas dois parágrafos! Assim, escavamos um pouco mais, em busca de mais informações sobre o artista.
![Edmund Monsiel](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/MONSIEL-Edmund-2.jpg)
Na década de 1920, Edmund Monsiel e a mãe administravam uma papelaria na pequena cidade onde moravam – pequena mesmo: Laszczów atualmente tem 2 mil habitantes!
Quando os nazistas invadiram a Polônia (evento que deu início à Segunda Guerra Mundial), no final da década seguinte, a loja da família foi tomada pelos alemães, para servir de alojamento aos militares.
Edmund Monsiel e um cunhado foram capturados e deveriam ser fuzilados. Monsiel conseguiu escapar, mas viu o cunhado ser assassinado. A filha deste também seria morta.
Edmund Monsiel, então, escondeu-se no apartamento de seu irmão.
A guerra duraria de 1939 a 1945. Quando acabou, Edmund Monsiel havia se tornado um recluso, saindo de casa apenas para seu emprego em uma fábrica de açúcar, e assim permaneceria, “escondido”, até a sua morte, ocorrida 17 anos depois do fim do conflito.
Quando seu corpo foi descoberto, também foram encontrados mais de 500 desenhos feitos com lapiseira. O achado foi surpreendente porque Edmund Monsiel não aparentava nenhum interesse pela Arte. E nenhum conhecido dele sabia que ele realizava estes desenhos – às vezes feitos em pedaços de papelão, outras vezes em documentos da fábrica de açúcar etc.
![MONSIEL, Edmund - [sem título]](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/MONSIEL-Edmund-desenho-sem-titulo-06-1024x669.jpg)
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Surpreendeu também a qualidade do trabalho de Monsiel.
Não eram rabiscos quaisquer, mas obras bem elaboradas. Em muitas, representava Deus – ou o Diabo – o que aponta que Monsiel deve ter se tornado extremamente religioso nestes anos. Um homem com um grande bigode também é frequentemente representado. Alguns desenhos parecem representar figuras políticas importantes, como Hitler ou Stálin.
Na verdade, os primeiros desenhos de Edmund Monsiel datam da década de 1920, porém a quantidade se intensificou bastante – e seu estilo mudou –, apontam os estudiosos, a partir da Semana Santa de 1943. Não se sabe se algo de especial aconteceu em sua vida nesta época, se o pintor “enlouqueceu” subitamente – ou se, simplesmente, resolveu desenhar de outra maneira…
Apesar de na maior parte do tempo não ver ninguém, talvez Edmund Monsiel sentisse falta das pessoas: alguns desenhos contêm mais de 3 mil rostos!
Pela análise do seu comportamento e das suas obras, supôs-se que Edmund Monsiel tenha desenvolvido um quadro de esquizofrenia e, por conta da doença, tinha alucinações visuais e auditivas. Um dos “sintomas” supostamente visíveis nos desenhos de Monsiel é o “horror ao espaço vazio”.
Quando foram descobertos, seus desenhos viraram uma sensação na Polônia – após serem divulgados por um… psiquiatra! Em 1963, ainda – ou seja, apenas um ano após a sua morte -, foram parar numa mostra, em Cracóvia, com o curioso nome de “Exposição Coletiva de Arte Amadora Problemática”. Um crítico de Arte correu lá e comprou boa parte dos trabalhos de Monsiel. Atualmente apenas 60 de seus desenhos estão na Polônia.
Hoje sua obra é respeitada – ao menos na região próxima de onde viveu, onde recentemente até exposição e simpósio foram organizados para expor e debater seus desenhos.
Há quem defenda, após uma análise mais detalhada de toda a sua obra, que o evento traumático da Guerra teve uma influência apenas temporária em seu estilo e que é uma injustiça atribuir sua Arte à loucura. De toda forma, é uma produção muito singular e interessante, que vale a pena ser vista.
JOHN CHRISTOPHER WOOD
Nascido no interior da Inglaterra, em 1901, filho de um médico, John Christopher Wood, apelidado apenas de “Kit”, começou a desenhar enquanto se recuperava de um quadro de septicemia, na adolescência.
![Christopher Wood](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/WOOD-Christopher.jpg)
Contudo, Wood flertou com a Medicina e com a Arquitetura antes de se decidir pelas Artes Plásticas.
A convite de um colecionador de Arte, John Christopher Wood mudou-se para Paris para estudar e então passava um tempo na França e um tempo na Inglaterra, com a família, quando também pintava.
Bissexual, John Christopher Wood teve um caso desde 1921 até o fim de sua vida com o filho de um senador chileno, um diplomata 14 anos mais velho do que o artista, casado, que ganhava dinheiro com apostas.
Neste meio tempo, o artista se envolveu também com mulheres e em 1927 planejou fugir e se casar com uma herdeira, Meraud Guevara, também ela inglesa e pintora – porém ela acabou casando-se com outro pintor, por coincidência também chileno.
Em 1929, a proprietária de uma galeria comprou várias obras suas e Wood sentiu que sua carreira decolaria. Entretanto, uma exposição ocorrida logo em seguida foi um grande fracasso.
No verão de 1930 o artista disse à proprietária da galeria que se ela não pudesse lhe garantir uma renda mínima, ele daria um tiro em si mesmo! Ela se assustou, ele pediu perdão e foram ver suas obras, para escolher algumas para o evento de inauguração da nova galeria dela.
Naquele verão, John Christopher Wood estava em Paris (França), onde produziu duas pinturas, “Zebra e paraquedas” e “Tigre e Arco do Triunfo”. Animais costumam ser fofos, quando em pinturas, mesmo os selvagens, e as duas obras representam um bicho em frente a uma construção humana. Pinturas algo surrealistas, com os animais retirados de seus habitats naturais.
Quadros que fugiam um pouco do estilo do pintor – estaria ele dando uma guinada em sua carreira, testando novas ideias? Pode ser. John Christopher Wood vivia em Paris há 10 anos, onde travava contato com vários artistas conhecidos, como Pablo Picasso – que, assim como o ópio, lhe foi apresentado por seu amante chileno.
![JOHN WOOD, Christopher - Zebra e paraquedas](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/WOOD-Christopher-Zebra-e-paraquedas-1024x847.jpg)
Ou estas pinturas já seriam sinal de que algo estranho estava ocorrendo com Wood?
Na pequena “Zebra e paraquedas” (55 x 45 cm), observadores mais atentos notaram que o homem no paraquedas parece sem vida. Esta interpretação, contudo, talvez tenha vindo apenas do fim trágico de “Kit”.
Em 19 de agosto, John Christopher Wood foi para a Inglaterra, onde encontrou a mãe e lhe mostrou seus últimos trabalhos.
O artista, entretanto, estava em um quadro de abstinência de opioides, situação em que o dependente pode ter sintomas como alucinações ou paranoia. Era o caso de Wood, que pensava estar sendo seguido por alguém ou alguma coisa – que há algum tempo havia passado a andar com um revólver.
Supostamente tentando escapar desta perseguição, no dia 21, logo após almoçar com a mãe e a irmã John Christopher Wood pulou na frente de um trem, morrendo instantaneamente. Atendendo aos desejos da mãe do artista, os jornais relataram a morte como acidental.
Sua lápide foi feita pelo desenhista e escultor Eric Gill (que também não era muito normal, mas esta história fica para um próximo post).
Em 1938, o trabalho de John Christopher Wood foi exposto no Pavilhão da Inglaterra da Bienal de Veneza.
“Zebra e paraquedas” está no Tate Museum, em Londres (Inglaterra) – mas, aparentemente, não fica em exposição permanente, talvez pelo fato de, tendo a carreira abreviada de forma tão trágica, o artista não ter tido tempo de colocar o seu nome entre os grandes da História da Arte.
LOUIS WAIN
Louis Wain (1840 – 1939) foi acometido de esquizofrenia, doença que comumente cursa com alucinações auditivas (“escutar vozes”) e delírios de perseguição.
![Louis WAIN](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/WAIN-Louis.jpg)
Louis Wain gostava de pintar… gatinhos! Gatinhos antropomorfizados, isto é, com algo de humano. Com o decorrer do tempo, suas pinturas foram ficando cada vez mais abstratas, “psicodélicas”, e muitos veem nisto uma progressão de sua doença.
O primeiro gato foi pintado em 1886 e apareceu em “Illustrated London News”. Era um gato-gato, ainda. Com o passar do tempo, estes gatos começaram a demonstrar humores e feições humanas e a aparecerem cada vez mais elaborados, coloridos e caleidoscópicos.
Muito produtivo, Louis Wain chegava a desenhar mais de 100 gatos no decorrer de um ano, e vários apareceram em revistas e cartões postais.
![WAIN, Louis - Gatos](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/WAIN-Louis-Gatos-1024x669.jpeg)
(Clique na imagem para ampliá-la.)
Foi especulado que a doença mental de Louis Wain tenha sido causada por um parasita, Toxoplasma gondii, encontrado em fezes de… claro, gatos!
Também se disse que o artista não sofria de esquizofrenia, mas de Síndrome de Asperger (uma doença aparentada ao autismo) e que o transtorno não diminuiu suas habilidades artísticas, mas as intensificou.
Em 1924 Louis Wain foi internado em um hospital psiquiátrico. Onde continuou a desenhar. Gatos, claro!
Um filme sobre o pintor, com o infame título de “A eletrizante vida de Louis Vaiin”, foi lançado em 2021, com Benedict Cumberbatch no papel do artista. Trailer abaixo.
A vida e as obras de Louis Wain foram bem mais registradas e estudadas do que a dos dois artistas que apresentamos anteriormente. Assim, tivemos condição de preparar uma página apena para ele.
Para saber mais sobre o artista e sua tortuosa vida, veja sua biografia completa: LOUIS WAIN.
Quer saber mais sobre o assunto? Confira o ensaio ARTE E LOUCURA.