Que o pintor austríaco Gustav Klimt (1862 – 1918) é o autor de “O beijo” (acima), uma das obras de Arte mais famosas de todos os tempos, isto todos sabem.
Neste post traremos alguns fatos menos conhecidos e curiosidades sobre a vida do artista e sobre algumas de suas obras.
INFLUÊNCIAS DE GUSTAV KLIMT
Pode parecer estranho ou curioso, mas a obra de Klimt aparentemente foi muito influenciada pela Arte Cristã Bizantina, praticada no final da Idade Média!
Observe, por exemplo, a “Virgem com o Menino Jesus” (obra também chamada de “Madona Rucelai”), de DUCCIO (c. 1255 – 1319), um dos primeiros pintores da História, ainda extremamente influenciado pelos ícones bizantinos.
![DUCCIO - Madona Rucelai](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/DUCCIO-Madona-Rucelai-737x1024.jpg)
O que a “Madona” de Duccio e as obras mais famosas de Klimt têm em comum? Imediatamente, chama a atenção a fixação pelo dourado. Em um segundo momento, a bidimensionalidade das personagens: não há volume, perspectiva, qualquer preocupação com a tridimensionalidade.
Outra técnica que Klimt “roubaria” da Arte Bizantina seria a dos mosaicos. De fato, os quadros do pintor parecem feitos de pequenos fragmentos de cor ou pedrinhas colocadas uma ao lado da outra, como as produções bizantinas. Klimt, aliás, chegou mesmo a produzir mosaicos!
Acredita-se que o artista tenha recebido esta influência após um tempo viajando pela Itália e lá estudando a Arte Medieval.
Por outro lado, há uma oposição gritante entre a Arte Bizantina e a de Gustav Klimt: enquanto aquela retratava apenas temas religiosos, a de Klimt era mundana, carnal e até mesmo pecaminosa. Ou seja, par alguns, se Klimt queria “homenagear” a Arte Bizantina, estava apenas cometendo blasfêmia…
Muito se fala, também, entre os historiadores, de uma influência da Arte Japonesa na obra de Klimt. As roupas utilizadas pelo casal em “O beijo”, por exemplo, seriam quimonos.
Em várias fotos de Klimt ele aparece usando uma bata. Esta imagem, associada ao Simbolismo de suas obras e a uma vida relativamente reservada, deram um certo ar “místico” ao pintor.
![Gustav KLIMT](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/Gustav-KLIMT-04.jpg)
TÉCNICA E ESTILO DE KLIMT
Gustav Klimt fazia vários estudos antes de pintar um quadro. Para algumas obras, foram encontrados mais de 100 esboços – muitas vezes, analisando apenas um pedaço da composição, como uma joia ou um trecho de uma roupa.
Até mesmo obras já expostas Klimt continuava a refazê-las. Conta-se, de forma anedótica, que algumas encomendas tiveram que ser retiradas “à força” de seu ateliê, pois o artista nunca as dava por terminadas.
Em relação ao seu trabalho, certa vez Klimt afirmou: “O verdadeiro relaxamento, que me faria muito bem, não existe para mim.”
Apesar de as obras mais famosas de Klimt, como “O beijo”, “Judith I” e “Retrato de Adele Bloch-Bauer” terem muito em comum e nos fazerem pensar que o estilo do artista se resumiu ao visto naquelas pinturas, as produções menos conhecidas do artista são bem diferentes!
No início de sua carreira, o artista, formado no Classicismo, pintava como mandava o padrão da época: de uma forma naturalista, buscando retratar as cenas como os olhos a veriam. O melhor exemplo desta fase talvez seja o quadro “Burgtheater” (“Teatro do Castelo [ou da Corte]”), feito em 1888.
[Clique nesta e nas próximas pinturas de Klimt para ampliá-las e ver seus detalhes.]
“Burgtheater” mede 103 x 92 centímetros e pertence ao Wien Museum, grupo de museus de Viena.
O teatro seria derrubado, dando lugar a um novo. Klimt pintou o velho teatro em 1888, pouco antes de sua demolição. Então com 26 anos, o jovem artista ainda seguia plenamente a cartilha acadêmica. É possível ver com nitidez o rosto de cada pessoa na plateia e a obra acabaria sendo, assim, um grande retrato coletivo da elite que frequentava aquele espaço.
Por outro lado, quando de sua morte, Klimt, que já havia abandonado o uso do ouro há muito tempo, vinha fazendo experiências, nos últimos anos, com influências de movimentos como o Impressionismo, o Expressionismo e até mesmo o Abstracionismo.
Por exemplo, qualquer um poderia apostar, sem muito medo de errar, que “Avenida no Parque do Castelo Kammer”, de 1912, teria sido feita por Vincent van Gogh.
“Avenida no Parque” mede 1,10 por 1,10 metros e está na Österreichische Galerie, no Palácio Belvedere, em Viena, que possui várias obras famosas do pintor.
Aliás, outro fato pouco conhecido sobre a obra de Klimt é que o artista gostava muito de pintar paisagens – cerca de um quarto de suas pinturas retrata ambientes naturais.
POLÊMICAS NA VIDA DE GUSTAV KLIMT
Até que o seu estilo fosse aceito, Klimt e suas obras foram acusados “de tudo e mais um pouco”: o artista foi chamado de obsceno, imoral, indecente – e, para piorar, estava “corrompendo a juventude” vienense. Mas chegou uma época – especialmente após “O beijo”, de 1908 – em que o artista virou um dos mais importantes e respeitados artistas austríacos.
O que nem todos sabem é que antes de ser massacrado pela crítica e pelo público, Klimt já havia sido um artista renomado. Naquela época, entretanto, no começo de sua carreira, seguia os padrões clássicos. Gustav Klimt chegou a receber, em 1888, uma medalha de ouro de honra ao mérito, das mãos do próprio imperador austríaco, por seu trabalho decorativo nos prédios públicos de Viena.
O próprio grupo criado mais tarde por Klimt, a Secessão de Viena, que se opunha à rigidez das ideias da Arte Clássica (o símbolo do grupo era Pallas Athena, deusa grega da sabedoria, que seria representada em uma pintura de Klimt), chegou a receber apoio oficial para a organização de ao menos uma exposição.
Entretanto…
Após o sucesso obtido mais tardiamente, em sua “Fase Dourada”, Klimt não pararia com suas “perversões”. Entre a parte da obra pouco conhecida do artista há inúmeros desenhos, boa parte de cunho erótico e alguns que podem mesmo ser chamados de p0rn0gr4fic0s!
![Gustav KLIMT [desenho] - Mulher](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/Gustav-KLIMT-desenho-Mulher.jpg)
O Wien Museum, em Viena, é a instituição que mais possui desenhos feitos por Klimt. Que hoje valem, cada um, no mínimo alguns milhares de dólares, mas que Klimt deixava espalhados por seu estúdio – e seus gatos (ele tinha vários) até mesmo defecavam em cima.
Ainda assim, um desenho de um nu (abaixo) feito por Klimt alcançou 500 mil libras, em 2008.
A vida amorosa e sexual de Klimt até hoje é motivo de especulações entre os historiadores mais “fofoqueiros”.
Adele Bloch-Bauer, que foi homenageada em dois retratos feitos por Gustav Klimt – o primeiro (abaixo) uma obra muito famosa – e que talvez seja a modelo de outra obra importante do artista, “Judite e a cabeça de Holofernes”, e de “Pallas Athena”, possivelmente era amante do pintor, especula-se.
O problema da história é que Adele era casada, com um rico industrial – que deve ter pagado pelos retratos da esposa… E o próprio Klimt tinha um relacionamento, com Emilie Flöge.
No começo da sua carreira, como pintor decorativo, Gustav Klimt se associou ao irmão Ernst Klimt e a um amigo, e os três criaram a “Companhia dos Artistas”, que recebeu várias encomendas públicas. Ernst morreria em 1892, com apenas 28 anos, e a “Companhia” seria desfeita. Afirma-se que nos três anos seguintes à morte do irmão Gustav esteve em um quadro depressivo que colocou sua carreira praticamente em pausa. [Fonte: Notes on Design.]
Abaixo, uma pintura sobrevivente de Ernst Klimt, de estilo bem clássico, inclusive com anjinhos…
![ERNST KLIMT - Antes do casamento](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/ERNST-KLIMT-Antes-do-casamento.jpg)
Ernst era casado com Helene Flöge e tinha uma filha. Quando Ernst morreu, Gustav assumiu a responsabilidade de cuidar da cunhada e da sobrinha. Helene tinha uma irmã, Emilie Louise Flöge, que tinha 18 anos então – Gustav tinha 30. Os dois acabaram se envolvendo e pelo resto da vida teriam uma relação.
Klimt sempre viajava com a família Flöge, quando gostava de pintar paisagens. Os moradores do local para onde sempre iam apelidaram o artista, por sua intensidade, de “demônio da floresta.”
O “Retrato de Emilie Flöge” tem 84 centímetros de largura e 1,81 metros de altura e também pertence ao Vienna Museum.
Há quem acredite que o casal representado em “O beijo” sejam o próprio Gustav Klimt e Emilie Flöge.
Emilie não viveria sob o “guarda-chuva” de Klimt. Pelo contrário, desenvolveria uma carreira própria, como desenhista de moda, obtendo sucesso no ramo da alta-costura, em parceria com suas irmãs Helene e Pauline, fazendo roupas modernas associadas ao movimento feminista da época. Alguns historiadores pensam que Klimt pode ter desenhado algumas roupas para Emilie; outros defendem que Emilie sempre criou de forma independente.
Na verdade, até hoje debate-se se a relação entre os dois era carnal ou apenas de amizade, platônica! Família e amigos de Emilie defenderiam a segunda hipótese. O que se sabe é que, tendo ou não uma relação amorosa com Emilie, Klimt teve vários casos e, apesar de nunca ter se casado, acredita-se que, fornicando aqui e ali, o artista tenha tido nada menos do que 14 filhos! Boa parte deles, com suas modelos…
Esta contagem vem do número de supostos herdeiros do artista que apareceram após sua morte. Os desenhos eróticos de Klimt, muitos feitos observando suas modelos, seriam uma boa prova da “liberalidade” do artista – que, suspeita-se, teve um caso até com a cunhada Helene… Contudo, apenas quatro dos 14 ‘filhos” de Klimt seriam reconhecidos como seus.
Mas a verdade é que Klimt, ao morrer, não tinha muito dinheiro. Vivia com a mãe e irmãos e, apesar de ter ganho muito com algumas obras, passava boa parte do seu tempo desenhando e, especula-se, gastava o seu dinheiro com as mulheres.
Quando, em 1908, um museu adquiriu o retrato de Emilie, Klimt escreveu a ela: “Você foi vendida. Minha mãe está indignada e disse que tenho de produzir outro retrato seu o mais rápido possível!” Porém o pintor nunca faria isto.
Gustava Klimt morreria precocemente, aos 55 anos, após um derrame, possivelmente como consequência da Gripe Espanhola – embora se acredite também que o artista sofresse de sífilis o que não seria nada surpreendente, dada a sua intensa vida sexual…
Há quem acredite que Klimt e Emilie tiveram um caso, mas depois se tornaram amigos. Ele inclusive escrevia a ela reclamando das mulheres que conhecia, em suas viagens. [Fonte: NY Times.]
Afirma-se que as suas últimas palavras, antes de morrer, foram: “Emilie precisa vir.” Emilie ficou com metade dos seus bens e a outra metade foi para a família do artista. No final da Segunda Guerra Mundial, entretanto, a casa de Emilie foi tomada por um incêndio e parte do trabalho dela e de Klimt foram perdidos.
![Gustav Klimt e Emilie Flöge](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/Gustav-Klimt-e-Emilie-Floge.jpg)
Muitas destas histórias de Gustav Klimt foram escavadas por historiadores “bisbilhoteiros”. Ao contrário de Pablo Picasso ou de Salvador Dalí, que gostavam de “aparecer”, de se exibir, o artista austríaco levava uma vida relativamente reservada, gostando de passar seu tempo em casa, com sua bata, pintando…
A vida do artista seria tema de ao menos um FILME: “KLIMT”, de 2006, com John Malkovich no papel do artista. Já a história do roubo do quadro “Retrato de Adele Bloch-Bauer” pelos nazistas e a sua recente tentativa de recuperação por uma sobrinha daria origem ao LIVRO “A DAMA DOURADA”, que viraria o FILME “A DAMA DOURADA”, em 2015.
FRASES DE GUSTAV KLIMT
Klimt falou muito pouco sobre suas visões artísticas. Uma de suas raras manifestações foi: “Eu nunca pintei um autorretrato. Não estou interessado em mim mesmo como um tema para pintura, mas nos outros, particularmente nas mulheres… Não há nada especial sobre mim. Eu sou um pintor que pinta dia após dia da manhã até o anoitecer… Quem quiser saber algo sobre mim… tem de olhar com cuidado para minhas obras.”
Outras frases de Gustav Klimt nos ajudam a entender um pouco mais sobre suas visões artísticas:
“Eu posso pintar e desenhar. Eu mesmo acredito nisso e algumas outras pessoas dizem que acreditam nisso também. Mas não tenho certeza se é verdade.”
“Sempre há esperança, enquanto a tela está em branco…”
“A Arte é uma linha em volta dos seus pensamentos.”
“Nenhuma parte da vida é tão pequena e insignificante a ponto de não oferecer espaço para aspirações artísticas. (…) Mesmo o objeto mais humilde, desde que executado com perfeição, aumenta a beleza da nossa terra.”
“Só a penetração cada vez maior das ideias artísticas em toda a vida garantirá o progresso da civilização”
“A verdade é como o fogo; dizer a verdade significa brilhar e queimar”
E a frase que talvez resuma a sua vida e a sua Arte:
“Toda Arte é erótica.”
(Gustav Klimt)
SAIBA MAIS
Aqui no site temos três páginas especiais sobre Gustav Klimt. Confira:
História de vida do artista: biografia deSuas principais produções artísticas: OBRAS DE GUSTAV KLIMT.
A principal obra do artista, analisada: “O BEIJO”, DE GUSTAV KLIMT.