A “Estátua de Davi” (ou “David”), de Michelangelo, é uma das obras de Arte mais conhecidas em todo o mundo.
![Estátua de DAVI - Michelangelo](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/2022/08/Michelangelos_David_2015-639x1024.jpg)
Neste texto, você saberá tudo sobre esta obra de Arte. Quando foi feita, sua altura, curiosidades sobre ela (como a história do homem que tentou destruí-la) – e porque é tão famosa. Vamos!
O artista italiano Michelangelo Buonarroti (1475 – 1564), mais conhecido simplesmente como Michelangelo, começou a esculpir “Davi” em 1501 – quando tinha, portanto, apenas 26 anos. Terminaria o trabalho três anos depois, em 1504.
A obra, feita em mármore, tem impressionantes 5,17 metros de altura! (Esta medida conta com a base da obra, de cerca de um metro.) De largura, aproximadamente 2 metros. O seu peso atinge inacreditáveis 5,5 toneladas!
O SIGNIFICADO DO ‘DAVI’ DE MICHELANGELO
A estátua representa o personagem bíblico Davi, que, segundo a Bíblia, foi um rei de Israel. Davi é mais conhecido pela história em que enfrenta (ainda antes de ser rei) o gigante Golias – que teria quase 3 metros de altura – e o vence acertando uma pedra entre seus olhos, com a ajuda de instrumento chamado “funda” (um espécie de estilingue). A história é contada no livro de “Samuel” 17:25.
!["Davi com a cabeça de Golias" - Caravaggio](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/2022/08/CARAVAGGIO-Davi-com-a-cabeca-de-Golias-c-1606-7-2-1024x795.jpg)
Segundo os estudiosos da obra, a estátua representa os momentos de tensão e concentração de Davi pouco antes do início do confronto com Golias. Na parte de trás da obra, nas costas de Davi, vemos a representação do suporte da funda que ele utilizou para alvejar Golias.
![](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/2022/08/Estatua-de-DAVI-Michelangelo-costas-1-682x1024.jpg)
COMO MICHELANGELO FEZ A ESTÁTUA DE ‘DAVI’
Conta a história que o enorme bloco de mármore repousava há décadas no fundo da Catedral de Santa Maria del Fiore, em Florença (Itália), após dois renomados artistas terem tentado trabalhar nela por anos. O bloco havia sido transportado até lá, de barco, através do mar Mediterrâneo e do rio Arno, vindo de uma pedreira da cidade de Carrara.
O escultor Agostino di Duccio, ainda antes de Michelangelo nascer, começou a fazer os pés, as pernas e o tronco de um homem, na pedra, mas, por motivos desconhecidos, abandonou o trabalho. Uma década depois, Antonio Rosselino tentou continuar o trabalho, mas também desistiu. Aparentemente, ninguém conseguiria domar “o gigante”, apelido que recebeu então o bloco de mármore. A obra seria parte de um projeto de 12 esculturas que decorariam o alto da Catedral – hoje mais conhecida como Duomo de Firenze (“Domo de Florença”, em italiano).
Anos depois a igreja queria que alguém retomasse a escultura, e Michelangelo, apesar de muito jovem, se deslocou de Roma a Florença e convenceu os desconfiados contratantes de que seria capaz de enfrentar o desafio. Conta-se que Leonardo da Vinci (1440 – 1517) havia se disposto a realizar a encomenda. Porém Michelangelo já havia impressionado a todos com a sua “Pietá”, concluída em 1499, quando contava com apenas 24 anos, e foi então o escolhido. (A “Pietá se encontra em uma basílica no próprio Vaticano, protegida por um vidro à prova de balas, tamanha a sua importância hoje.)
!["Pietá", de Michelangelo](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/2022/08/MICHELANGELO-Pieta.jpg)
Ao contrário do padrão da época, em que grandes obras eram encomendadas pelo papa ou por mecenas ricos, quem pagou pelo trabalho de Michelangelo foram os operários da catedral.
Trabalhando incansavelmente, às vezes até à noite, com uma vela presa a seu chapéu, ele traria ao mundo uma obra assombrosa. Conta-se que Michelangelo, enquanto “Davi” ainda estav sendo esculpido, protegeu o mármore com tapumes, para que ninguém visse a obra antes de pronta.
Há algumas imperfeições anatômicas no “Davi” de Michelangelo. Por exemplo, a cabeça e o tronco de “Davi”, assim como sua mão direita, são um pouco maiores do que deveriam.
Michelangelo errou? Provavelmente não, pois já conhecia bem a anatomia humana. Alguns críticos acreditam que Michelangelo tenha de ter lidado com imperfeições naturais da pedra e dos trabalhos anteriores realizados nela. Entretanto, muitos outros acreditam que as distorções foram intencionais, conceituais. A estátua era muito grande e deveria ficar, originalmente, elevada, na parte de fora do teto de uma igreja. A cabeça e o tronco grandes, portanto, serviam para que o observador, olhando para cima, não os visse tão pequenos em relação às pernas de “Davi”. Quanto à mão grande, talvez visasse atrair a atenção do observador para a tensão daquele momento-chave – “Davi” parece prestes a lançar a pedra que matará o gigante Golias.
![](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/2022/08/Estatua-de-DAVI-Michelangelo-detalhe-2-768x1024.jpg)
Há ainda uma interpretação política da obra. Florença era uma cidade-estado independente, porém ameaçada por vizinhos rivais. A falta de medo, a coragem de “Davi” deveria avisar aos inimigos que Florença era como ele: destemida! Talvez não à toa, originalmente o Davi foi posicionado olhando para a direção de Roma.
![Cabeça do "Davi" de Michelangelo](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/2022/08/Estatua-de-DAVI-Michelangelo-detalhe-1-683x1024.jpg)
ANÁLISE DE ‘DAVI’, DE MICHELANGELO
Por que a escultura de “Davi”, de Michelangelo, impressiona tanto, por que é tão famosa?
O poder da “Estátua de Davi” começa, obviamente, com o seu tamanho. Ironicamente, o “Davi” de Michelangelo é bem maior do que o Golias bíblico.
Além disto, na época a obra inovou na forma como representava o tema. Donatello (c. 1386 – 1466), por exemplo, cerca de seis décadas antes havia esculpido a mesma cena bíblica, porém retratando um momento após a luta, com a cabeça de Golias aos pés de Davi.
!["Davi" de Donatello](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/2022/08/DONATELLO-Davi-683x1024.jpg)
Claro, a estátua de Michelangelo é muito bem executada, é muito bonita, é difícil encontrar quem não se encante com ela, apesar de uma ou outra imperfeição anatômica apontada pelos mais críticos.
Contudo, há mais do que isto. O que talvez tenha encantado o público na época – e ainda encanta hoje – foi o “espírito” de Davi, transmitido através da sua pose, dos seus músculos (observe como o Davi de Donatello é um adolescente franzino), da sua face, do seu olhar. Há um pouco de tensão, de preocupação, sim. Mas há muito mais confiança, segurança. “Davi” representa a vitória da inteligência contra a força bruta, contra a tirania. Isto casava muito com os ideais do Renascimento, quando os poderes da Igreja e do Estado começavam a ser questionados, quando o indivíduo começou a ganhar proeminência frente às instituições.
Afirma-se que Leonardo da Vinci, que tinha 23 anos a mais do que Michelangelo e já era famoso quando este terminou de esculpir o “Davi”, um dia perguntou ao jovem como ele realizara tal proeza. Michelangelo teria respondido: “Eu apenas retirei do mármore tudo o que não era o Davi.”
Verdade ou não o diálogo, o fato é que a frase ficou famosa. Mais do que isto: direta ou indiretamente inspiraria, séculos depois, escultores como o francês Rodin (1840 – 1917), autor de obras muito famosas como “O pensador”. Rodin deixava várias obras com a aparência de inacabadas – pois já havia retirado da pedra tudo o que sentia que havia para ser excluído.
![Rodin - "O Pensador"](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/2022/08/RODIN-O-pensador-742x1024.jpg)
AGRESSÕES À ESTÁTUA DE ‘DAVI’
Ainda em 1527, durante um protesto político, a “Estátua de Davi” foi atingida por pedras e seu braço foi fraturado em três partes. Uma restauração consertou o estrago, porém ainda é possível ver suas marcas.
Em 1991, um artista italiano, Pietro Cannata, com um martelo, começou a quebrar o pé esquerdo da estátua, porém foi contido por outras pessoas que admiravam a obra. Cannata, em seu julgamento, foi considerado doente mental e foi enviado para um hospital psiquiátrico. Depois de sua alta, entretanto, voltaria a vandalizar outras obras na cidade e em Roma, dizendo que “uma força dentro de mim me fez fazer isto”.
![](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/2022/08/Estatua-de-DAVI-Michelangelo-detalhe-3-1024x683.jpg)
Afirma-se que as pisadas de milhões de visitantes anuais ao redor da obra correspondem a um “pequeno terremoto” que pode danificar a estátua e gerar até mesmo a sua queda. Alegando coisas assim, o Governo da Itália tentou dizer que a escultura pertencia ao Estado, e não à cidade de Florença, e que o país poderia cuidar melhor dela do que a cidade. Obviamente, havia interesses econômicos por trás da disputa..
ONDE ESTÁ O ‘DAVI’ DE MICHELANGELO
Até 1872, a estátua de “Davi” ficava exposta na Piazza della Signoria, praça em frente ao Palazzo Vecchio. Então, por questões de segurança e de preservação, foi movida para o interior da Galleria dell’Accademia – que tem outras obras do artista -, e uma cópia foi colocada na praça.
Para quem viaja à Itália, à Florença, na expectativa de ver o “Davi”, a dica é comprar o ingresso antecipadamente, pela internet, pois há boa chance de chegar lá e as entradas para o dia estarem esgotadas.
Há, entretanto, uma segunda cópia exposta em outra praça de Florença, a Piazzale Michelangelo.
![Réplica do "Davi" de Michelangelo na Piazzale Michelangelo](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/2022/08/Estatua-de-DAVI-Michelangelo-Piazzale-Michelangelo-768x1024.jpg)
Assim, há três estátuas de “Davi”, em Florença – a original, dentro do museu, pela qual é necessário pagar para ver, e mais duas cópias.
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