Joseph Mallord William Turner, conhecido como J. M. W. Turner, William Turner ou simplesmente Turner, é um pintor nascido em Londres, Inglaterra, em 1775.
J. M. W. Turner é um pintor que hoje não é tão aclamado pelo público mundial, o que é uma pena, pois foi autor de obra bastante original – e bastante reconhecida, em seu tempo.
De origem humilde, filho de um pai barbeiro (fabricante de perucas?) e de uma mãe com problemas mentais, William Turner começou a desenhar muito cedo. A primeira “galeria” onde J. M. W. Turner expôs seus desenhos foi a janela da barbearia do pai.
Ainda muito jovem, J. M. W. Turner entrou na Royal Academy of Art Schools. Com apenas 15 anos, J. M. W. Turner realizava sua primeira exibição na Royal Academy, sendo bastante aclamado: imediatamente, Turner já ganhou a reputação de um pintor perfeito de grandes paisagens.
J. M. W. Turner dedicou-se à aquarela tanto quanto à pintura à óleo, embora hoje seja mais reconhecido por esta última. Turner tinha apenas um único ídolo, Claude Lorrain: copiava as obras do mestre e desejaria que algumas das suas fossem expostas ao lado das dele.
Embora fosse se aventurar por outros temas, a grande paixão de J. M. W. Turner seria a paisagem, especialmente a marítima. Para muitos, Turner foi o maior pintor deste tema de todos os tempos.
Porém, William Turner era ambicioso – não queria ser apenas reconhecido como um grande pintor de paisagens, gênero ainda não muito valorizado; queria, na verdade, que a paisagem pudesse alcançar um status nobre na Pintura, como tinha, por exemplo, a Mitologia.
Para alcançar seus objetivos, era preciso que a própria pintura de paisagens evoluísse, transcendesse o fato, isto é, que ultrapassasse a cena real que era representada. E J. M. W. Turner conseguiria isto, arrebentando com os padrões anteriores da representação – Turner “transformou as paisagens em algo universal, algo que era material em metafísico” (“501 artistas”). “As pinturas de Turner são fascinantes e, ainda assim, não há nada exato, nada humano, apenas cores inesquecíveis e fantasmas que tomam conta da nossa imaginação.” (“1000 obras-primas da Pintura”).
J. M. W. Turner, especialmente no início de sua carreira, pintou várias cenas de modo clássico, muito bem feitas, mas ainda muito convencionais. Contudo, seu interesse pelos efeitos da luz (que antecederiam em algumas décadas esta preocupação que seria tão cara ao Impressionismo francês), aliado à sua criatividade, o levaram a criar uma pintura totalmente nova. Acredita-se que as ideias de Turner sobre o poder “moral” das cores podem ter vindo de um escrito do poeta Goethe, “Doutrina das cores”. As cores, em Turner, não seriam apenas “intensas”: seriam quase irreais.
Veja-se, por exemplo, o caso de “Tempestade de neve: barco a vapor na embocadura de um porto”, de 1842.
Se esta tela não tivesse título, ou se tivesse um título aleatório como, digamos, “Composição 27″, ou se nos dissessem que foi feita no século 20, pensaríamos ter sido feita por algum pintor recente, representante do Abstracionismo. Talvez, e apenas talvez, alguém dissesse, ao ver a obra: “Isto se parece com uma tempestade em alto mar!”
Em “Chuva, vapor e velocidade” (feita antes de 1844, embora não se saiba exatamente quando), ainda conseguimos, se prestarmos atenção, adivinhar o trem, e um pálido aqueduto (ou ponte) à esquerda. Não fossem estes pequenos pontos de lucidez, novamente estaríamos frente a uma tela abstrata.
Porém certos críticos, mais lúcidos, perceberam o que estava ali. Um, em um jornal, avisou aos leitores para que fossem logo ver a tela, quando exposta na Academia Real (onde virou professor de perspectiva), pois a qualquer momento a locomotiva “poderia arremeter-se do quadro e partir a toda velocidade, atravessando a parede em frente”. O que estava ali, naquela tela, era o “futuro”. “Velocidade”, como dizia o título da tela.
A frente da locomotiva parece retirada para expor sua caldeira, mostrar “o funcionamento das coisas”, que maravilhavam os cidadãos ingleses. É de onde vem o vapor.
É difícil perceber, mas há um toque de humor de William Turner na tela. Na frente do trem, há uma lebre, correndo mais rápida do que a máquina!
Compreendendo o motivo das telas de J. M. W. Turner, entretanto, o que às vezes só é possível com o título delas, entenderemos como foi criativa a sua representação das tempestades, de uma luminosidade presente apenas quando a chuva cai quando ainda existe um resquício de sol.
John Constable (1776 – 1837), também pintor inglês, contemporâneo de J. M. W. Turner, afirmou deste: “Ele tinha um raciocínio extraordinariamente amplo.”. E completou: “Ele parece pintar com vapor de tinta, tão passageiro e etéreo!”
Turner “descansava” das paisagens pintando temas históricos (como a Batalha de Waterloo, empreendida pelo francês Napoleão Bonaparte [1769 – 1821]), mitológicos, literários etc.
Em obras precoces como “A tempestade de neve: Aníbal e seu exército cruzando os Alpes”, feita por volta de 1812, já se notava este “Impressionismo” antes-do-tempo de William Turner. Os personagens são pequenos e o que chama a atenção é a “paisagem” – embora esta palavra seja inocente demais para definir a grandiosidade, o terror que a tempestade evoca.
É interessante observarmos a data de uma obra de estilo bastante convencional como “A rainha Dido construindo Cartago”: 1815. Ou seja, J. M. W. Turner não “descambou” para o estilo inovador e abandonou o clássico. Oscilava entre os dois conforme seus interesses – e o dos compradores, provavelmente.
É por telas como esta que alguns classificam J. M. W. Turner como um pintor representante do Romantismo Inglês. Mas é reduzir demais a sua obra, e desconsiderar o que ela tem de melhor: a inovação.
Na época de William Turner os transportes evoluíram muito (não à toa ele homenageia o trem), e ele apreciava muito viajar. Todo verão Turner partia, em busca de novos temas, de novas paisagens – provavelmente foi o artista mais viajado de seu tempo, tento ido inclusive à Itália, até então a grande terra da Pintura, historicamente, por causa do Renascimento, no século 16. Mas o país preferido de J. M. W. Turner parecia ser a Suíça.
Outro grande exemplo do apreço de J. M. W. Turner pelos navios aparece em “A última viagem do HMS Temeraire”, de 1839 – uma tela menos rebuscada e uma das preferidas do pintor. O navio, rebocado para ser desmontado, foi pintado de uma maneira “fantasmagórica”, quase flutuando sobre o Tâmisa. A paisagem exerce uma função: a vida do navio chega ao fim no esmo momento em que o dia também se põe
J. M. W. Turner alcançou a fama e a fortuna. Mas não isento de polêmicas. Sua pintura inovadora fazia com que muitos chiassem. “Tempestade de neve: barco a vapor na embocadura de um porto”, hoje uma das obras mais importantes não só de J. M. W. Turner como da História da Pintura, foi ela mesmo muito polêmica. Espectadores diziam, com ironia, que a tela precisava de uma boa lavagem e aconselhavam J. M. W. Turner a, da próxima vez, esperar a tempestade passar… Um crítico de Arte (sempre eles, entrando para a História por rir de gênios…) disse que William Turner resolveu “pintar com creme ou chocolate, gema de ovo ou gelatina”, e que nesta tela “usa todos os seus equipamentos de cozinha. Onde está o barco ou onde o porto começa… são questões que não nos dizem respeito.” O crítico faz o público rir, é claro – tempos depois, passa por ridículo e míope.
Sobre esta tela em específico, diz-se também que a cena se baseava na experiência do pintor, que havia sido amarrado, aos 67 anos, por quatro horas, ao mastro de um navio durante uma tempestade! Provavelmente uma lenda…
Toda esta polêmica levou outro crítico de Arte (e escritor), John Ruskin (1819 – 1900), inglês, bem mais visionário que aquele outro, a defender J. M. W. Turner em “Os pintores modernos”, de 1843, publicação também controversa. Segundo John Ruskin, “A tempestade de neve” é “uma das maiores afirmações do movimento do mar, da névoa e da luz que jamais foram retratadas numa tela”.
J. M. W. Turner morreu na Londres em que nascera, em 1851, com 76 anos.
Um problema no testamento de J. M. W. Turner fez com que o governo se apoderasse de todo o conteúdo do ateliê do artista, totalizando cerca de 280 pinturas a óleo, quase 300 cadernos de esboços e milhares de aquarelas e desenhos. O grande repositório atual da obra de J. M. W. Turner é a Tate Collection, em Londres.
LIVROS SOBRE TURNER
Em português, até onde sabemos, não há algum livro especificamente sobre a vida de William Turner. Entretanto, o livro “O poder da Arte”, que traz a biografia de apenas oito grandes artistas, tem um capítulo, com quase 70 páginas ilustradas, dedicado a Turner – de onde veio, aliás, parte das informações deste artigo.
O próprio Turner não escreveu muito sobre si mesmo. E afirmou: “Não pinto para que as pessoas me entendam. Pinto para mostrar como se vê uma cena em particular.”
FILME “SR. TURNER”
Em sua época, William Turner foi um pintor polêmico, muito criticado por uns e defendido por poucos – embora, do ponto de vista financeiro, tenha sido bem-sucedido.
A vida de Turner foi objeto de um filme, “Sr. Turner”, com Timothy Spall no papel do artista. O filme é um bom recorte da vida do pintor, retratando alguns dos dramas artísticos pelos quais passou, tendo de lutar com a crítica para provar o seu valor.
Hoje o artista é considerado um dos mais importantes pintores ingleses de todos os tempos…