O pintor Paul Gauguin amou a luz na Baía de Guanabara (*) nasceu em Paris (França) em 1848. Seu nome completo era Eugène Henri Paul Gauguin.
O pai do artista era jornalista, e morreu quando Paul Gauguin era ainda criança. Sua mãe, Aline, era peruana. O pai de Paul Gauguin fazia oposição a Napoleão III e teve de buscar asilo político – morreu quando viajavam para Lima, capital do país natal de Aline. A avó materna de Paul Gauguin, Flora Tristan, foi uma pioneira do feminismo – o romance “O paraíso na outra esquina”, do peruano Mario Vargas Llosa, nascido em 1936 e ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2010, conta histórias de Flora e do pintor. A avô viajava muito; o avô materno era gravador – e foi condenado a trabalhos forçados por ter tentado matar a mulher.
Anos depois, em 1855, a família voltaria para a França, para a cidade de Orléans, mas aquele período passado nos trópicos provavelmente influenciaria um desejo que Paul Gauguin manifestaria, mais tardiamente, de viver em locais mais “primitivos”.
Paul Gauguin entrou na marinha mercante em 1865 e lá permaneceu por cinco anos – neste intermeio, a mãe faleceu. Paul Gauguin ainda tinha um protetor, Gustave Arosa, um colecionador de Arte que possuía várias obras contemporâneas.
Em 1872, Paul Gauguin tornou-se corretor de ações em Paris.
Em 1873, Paul Gauguin casou-se com uma dinamarquesa de família rica, Mette Gad.
Paul Gauguin era bem-sucedido como corretor, mas queria ser era artista. Em 1874, Paul Gauguin foi à primeira exposição dos impressionistas (que ainda não eram assim chamados), onde o pintor Camille Pissarro (1830 – 1903), nascido nas Ilhas Virgens Americanas, o incentivou a enveredar-se pela Arte. Pissarro, aliás, é considerado peça fundamental no Impressionismo porque foi grande orientador de vários artistas da época.
Paul Gauguin continuou seu trabalho no meio econômico, teve cinco filhos… mas frequentava as rodas de artistas e intelectuais parisienses. Além disto, comprava quadros dos amigos impressionistas – embora, em tese, desejasse seguir os estilos de Eugène Delacroix (1798 – 1863) e Jean-François Millet (1814 – 1875), ambos franceses. Para pintar, Paul Gauguin saía pelos arredores de Paris com seu colega na Bolsa Émile Schuffenecker (1851 – 1934), que também dava suas pinceladas.
Às vezes, Paul Gauguin se arriscava na Escultura, fazendo bustos cujos modelos eram a mulher e os filhos.
Em 1880, Camille Pissarro finalmente convidou Paul Gauguin a participar da 5a Mostra Impressionista. O romancista e crítico de Arte J. K. Huysmans (1848 – 1907) escreveu a respeito de “Estudo de nu” (também conhecido como “Suzanne costurando”): “Entre os pintores contemporâneos que trabalharam o nu, nenhum foi capaz de representá-lo com tão veemente realismo… Gauguin foi o primeiro artista em muitos anos que tentou representar a melhor de nossos dias… Seu sucesso é completo, ele criou uma tela ousada e autêntica.”.
Em 1882, uma crise financeira fez com que as condições econômicas de Paul Gauguin se abalassem. Em 1885, Paul Gauguin perdeu seu emprego de banqueiro. E resolveu levar adiante o projeto de viver como artista.
Paul Gauguin chegou a expor pinturas de paisagens no Salão de Paris, mas, desiludido com os resultados financeiros da empreitada (com a crise, o mercado de Arte também se retraíra), foi para uma cidade do interior, Rouen, em busca de uma vida mais tranquila. Logo foi com a família para Copenhague, capital da Dinamarca, onde estava a família da esposa e onde esperava ser representante de uma fábrica de lonas. A família dela, esnobe, não o recebeu bem e o negócio não deu certo.
Paul Gauguin voltou para Paris, então, com um filho apenas. Passando muitas dificuldades, chegou a trabalhar colando cartazes.
Muitos artistas falavam sobre sair da grande civilização, buscar algo mais tranquilo, e estas ideias vinham ao gosto de Paul Gauguin. Em 1886, o pintor foi para Pont-Aven, na região da Bretanha. Lá, tornou-se amigo do pintor Charles Laval (1862 – 1894). Notícias de seus trabalhos chegavam a Paris – o que despertou no holandês Vincent van Gogh (1853 – 1890) o desejo de conhecer Paul Gauguin.
Theo van Gogh, irmão de Vincent van Gogh, trabalhava em uma galeria de Arte e organizou uma exposição de Paul Gauguin, no início de 1888 – sem muita repercussão.
Nesta época, Paul Gauguin afastou-se do Impressionismo, ao trabalhar com outros pintores, como o também francês Emile Bernard (1868 – 1941) – Paul Gauguin chegou a recusar-se a participar do Salão dos Independentes. As cores tornaram-se mais fortes e até artificiais; os traços das figuras, mais evidentes.
Paul Gauguin estava pintando uma certa idealização dos camponeses, como em “A visão depois do sermão”. Nota-se, na pintura, também a influência das gravuras japonesas, neste retrato do misticismo católico presente na região da Bretanha – o quadro representa a luta entre Jacó e o anjo, um episódio do Gênesis. Em uma carta a Vincent van Gogh, Paul Gauguin havia dito que gostava deste óleo sobre tela apesar de ser uma pintura “terrivelmente malfeita”.
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O estilo foi chamado de “Sintetismo”, por sua simplicidade. Paul Gauguin fugia da representação pura e dizia querer encontrar “a imagem por trás do enigma inviolável”. Paul Gauguin e Émile Bernard mantinham longas discussões teóricas sobre a Pintura. A Schuffenecker, Paul Gauguin escreveu: “A arte é uma abstração. É preciso extraí-la da natureza por expressão, e pensando mais em criação que no resultado final.”.
Em uma carta a Vincent van Gogh, Paul Gauguin declarou: “Acho tudo poético, sinto a poesia nos cantos escuros, às vezes misteriosos, de meu coração. Formas e cores arranjadas de modo harmonioso são poesia em si.”
Neste ano de 1888, ainda, Paul Gauguin foi passar uma temporada com Vincent van Gogh, que então vivia em uma pequena cidade no interior francês (Arles), pintando desconhecida e solitariamente. Vincent van Gogh decorou o quarto de Paul Gauguin, para esperá-lo, com as hoje famosas pinturas de girassóis. A união de trabalho durou apenas dois meses, pois era tensa. Na véspera do Natal, um episódio dramático – em “Antes e depois”, livro de mémorias de Paul Gauguin, o pintor escreveu: “Eu estava acabando de cruzar a praça Victor Hugo quando ouvi atrás de mim um passo familiar, rápido e sincopado… Vincent caminhava com uma navalha aberta na mão. Naquele momento meu olhar deve ter sido muito severo, porque ele estacou, baixou a cabeça e correu de volta pra casa…” Vincent van Gogh voltou para casa e, em surto, cortou uma orelha – e Gauguin se mandou de Arles, após passar um breve tempo detido.
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Enfastiado da Europa e em busca de algo cada vez mais mítico, Paul Gauguin foi primeiramente para o Panamá, com Charles Laval, onde desapontou-se. Foi para a Martinica, também na América Central, mas também não deu certo:ficou doente e sem dinheiro.
Paul Gauguin agora não desistia mais, entretanto, de levar sua Arte adiante. Em “Cristo amarelo” e “Cristo verde”, ambas de 1889, vemos uma religiosidade exarcebada e um estilo naïf. Em “Retrato de mulher com natureza-morta de Cézanne”, de 1890, Paul Gauguin presta uma homenagem a Paul Cézanne (1839 – 1906) com a inclusão de uma pintura que pertencia à sua coleção.
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Paul Gauguin foi finalmente para o Taiti, em 1891, indo viver entre os povos mais “primitivos” – para isto, abandonou a família em Copenhague (antes, foi lá despedir-se). O dinheiro para a viagem veio de um leilão que organizou de várias obras suas. Em 1889, dois anos antes, na Exposição Universal ocorrida em Paris, houve exibição da cultura das colônias francesas, e Paul Gauguin havia ficado deslumbrado. Era a hora de partir de vez.
Paul Gauguin passou os últimos anos de vida na Oceania (o continente que reúne a Austrália e várias outras ilhas menores, como as que compõem a Polinésia – algumas ilhas da Polinésia pertencem aos Estados Unidos, outras à Nova Zelândia, a Ilha de Páscoa pertence ao Chile etc. Há também a Polinésia Francesa, cuja capital é Papeete, que fica na maior das ilhas da Polinésia Francesa, o Taiti), deprimido, mas ainda pintando suas visões do seu paraíso mental.
Comparando-se a Arte de Paul Gauguin de antes e depois do Taiti, percebemos que é um erro achar que ela se tornou “primitiva” após a mudança para a longínqua ilha. O que mudou foi a temática, mas o estilo de pintura, não.
No Taiti, Paul Gauguin pintou várias mulheres nuas e com muitas se envolveu. “Os ancestrais de Tehamana” (1893) mostra uma destas amantes – vestida. Tehamana tinha apenas 13 anos e era sua “noiva”.
Em “Autorretrato com Manao Tupapau” (1893) o pintor aparece ao lado do retrato de uma jovem nua – a tela escandalizou Paris (mas, naquela época, tudo escandalizava Paris…). Em 1893 foi organizada uma exposição destes novos trabalhos de Paul Gauguin, que pasmou público, críticos e colegas. Dos 45 quadros, 11 foram vendidos.
“Nunca mais o Taiti” (1897) é uma alusão ao poema “O corvo”, do americano Edgar Allan Poe (1809 – 1849) – cuja estrutura se baseia numa repetição das palavras “nothing more” (reparar o corvo na janela, na pintura).
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“De onde viemos? Que somos? Aonde vamos?”, também de 1897, reflete a angústia de Paul Gauguin: após terminar o quadro, o pintor tentou se matar. Tempos depois, morreu seu filho mais próximo.
Paul Gauguin voltou duas vezes à Europa. Já explorava, então, a fama de pintor “primitivo”, que vivia entre povos ancestrais, aborígenes. “Ele inaugurou a era em que o artista faz da própria imagem um elemento central de sua obra”, disse Christine Riding, curadora de uma exposição recente sobre Paul Gauguin. A frase é um exagero. Podemos achar este fator em pintores muito anteriores a Paul Gauguin – como no italiano Fra Angelico (c. 1387 – 1455). Paul Gauguin também não foi o primeiro a pisar no Taiti: o escritor americano Herman Melville (1819 – 1891), autor de “Moby Dick”, esteve (preso) em Papeete em 1842; em 1888 quem foi ao Taiti foi o escritor escocês Robert Louis Stevenson (1850 – 1894), autor de “O médico e o monstro” e de guias de viagem.
Pouco antes de morrer, Paul Gauguin escreveu uma carta ao amigo francês Georges-Daniel de Monfreid (1856 – 1929), colecionador de arte e também pintor, pedindo-lhe ajuda para retornar à França.
Gauguin estava morando na ilha de Atuana, onde era desprezado pelos colonos franceses – acusado de difamação, chegou a ser condenado a três meses de prisão e multa. Monfreid respondeu ao pedido assim: “Ao nos enviar suas pinturas desconcertantes dos confins da Oceania, você passou a ser visto como um mestre que revela seus trabalhos sem estar mais presente na Terra – e isso lhe confere a imunidade dos grandes mortos.”.
Em sua casa, que apelidou “Casa de contentamento”, duas tábuas acima da porta diziam: “Seja misterioso” e “Ame e será feliz”.
Com sífilis, Paul Gauguin morreu em 1903, com 54 anos, na Polinésia Francesa, sem dinheiro e sentindo-se solitário, deprimido.
Há quem diga que uma exposição de quadros de Paul Gauguin tenha influenciado a criação do Cubismo (que tem no espanhol Pablo Picasso, 1881 – 1973, seu maior nome) – mas tanto se fala sobre as influências sobre este movimento que é difícil saber quais foram realmente importantes…
Atualmente, no Taiti, há um pequeno museu dedicado a Paul Gauguin.