Neste texto, conheça a vida (biografias) e obras de três dos maiores nomes do Impressionismo: os pintores Claude Monet, Edgar Degas e Alfred Sisley.
CLAUDE MONET
Claude Oscar Monet nasceu em 1840, em Paris, França, e morreria em Giverny, pequena cidade também francesa, em 1926. Viveu 86 anos.
Claude Monet, ou simplesmente Monet, é considerado o pai do movimento artístico chamado de “Impressionismo”. Quem nomeou, involuntariamente, o movimento, foi um crítico, que não gostou das obras de Monet e seus colegas, e os chamou de “impressionistas”, em referência a uma tela de Monet: “Impressão: nascer do sol”, pintada por volta de 1873 – os “impressionistas” gostaram da expressão e a adotaram. É sempre divertido nos lembrarmos que ninguém, fora alguns estudiosos da obra de Monet, sabe o nome deste crítico, enquanto hoje as telas do pintor francês são reconhecidas por qualquer um…
Claude Monet nasceu em Paris, mas quando tinha 5 anos sua família se mudou para Le Havre, cidade no litoral norte do país.
Um artista local, Eugène Boudin, o introduziu à pintura plein-air, isto é, feita ao ar livre.
Isto seria importante na carreira de Monet e no desenvolvimento do Impressionismo, já que os impressionistas não mudaram apenas a pincelada sobre a tela, mas também gostavam muito de explorar justamente as diferentes impressões causadas pelas variações da luz no decorrer do dia – algumas das séries de Monet, como “A Catedral de Rouen” (1892 – 1894) retratam a mesma cena, porém pintada em diferentes horas do dia.
Vale lembrar que a “Escola de Barbizon”, algumas décadas antes de Monet, já pregava um certo retorno à natureza (o nome da Escola se deve à cidadela francesa para onde um grupo parisiense, incluindo Jean-François Millet, se mandou para pintar a vida do povo mais simples). Uma análise interessante diz que o Impressionismo só foi possível porque foi inventada, naquele século XIX, a bisnaga de tinta, que permitiu aos pintores saírem do estúdio… Antes, apenas o esboço era feito ao ar livre, e a pintura era completada no estúdio.
Mas nos adiantamos… Voltemos à vida de Monet…
Aos 22 anos, já em Paris, Claude Monet foi admitido no ateliê do pintor acadêmico Charles Gleyre. Neste local conheceu Pierre-Auguste Renoir e Frédéric Bazille, que, mais tarde, se tornariam parceiros no Impressionismo.
Monet pintou alguns óleos sobre tela de forma mais acadêmica: paisagens, marinhas, retratos… Estas obras foram aceitas na mostra anual do Salão de Paris. Contudo, suas telas maiores foram recusadas, pois nelas Monet começava a fugir dos cânones mais clássicos da Pintura.
Sua decepção a esta rejeição o levou a se juntar a artistas como Édouard Manet, Edgar Degas, Camille Pissarro e Renoir, com os quais fundou a Sociedade Anônima dos Artistas (nem tão anônima assim, já que todo mundo sabia quem eram seus integrantes…). Em 1874 o grupo promoveu sua primeira mostra independente.
Foi aí, nesta exposição, que o crítico Louis Leroy escarneceu não só Monet, mas a todos. Dizia-se que tais artistas pareciam estar a expor obras inacabadas.
Boa parte do público, é bom que se diga, não acostumada, obviamente, com as novas técnicas, também rejeitou o nascente Impressionismo. Mas esta resistência por parte do público não durou muito.
Claude Monet, que viveu bastante, teve carreira bastante prolífica. Em seus quadros, retratou as duas esposas que teve, jardins e construções de Paris, o litoral e o interior da Normandia – e especialmente seu jardim em Giverny, para onde ocasionalmente acorriam seus amigos Manet e Renoir.
No final de sua vida, morando em Giverny, Monet se dedicou a pintar as vitórias-régias dos lagos da cidade, em grandes telas. A pincelada, a esta altura, já estava bastante forte, grossa, causando uma fusão de água e plantas que, em algumas obras de Monet, não fosse o título da tela a nos orientar, poderíamos pensar se tratar de uma obra abstrata. O Abstracionismo havia surgido pouco antes da morte de Monet. Monet certamente não era um, mas o desencadear dos fatos mostra que sua tela “Impressão: Nascer do sol” estava na gênese não só do Impressionismo, mas também do Modernismo do século XX.
Quando Claude Monet morreu, as telas das vitórias-régias foram para uma galeria que o governo francês preparou especialmente para elas, o Musée de l’Orangeries des Tuileries.
EDGAR DEGAS
Cada pintor, embora comumente flutue entre algumas ideias e estilos, acaba por ser conhecido por apenas algumas obras. Tendemos a pensar, então, se pouco conhecemos da trajetória deste pintor, que ele pintava apenas aquilo. Com Edgar Degas, “o pintor das bailarinas”, não é diferente. Mas Edgar Degas fez desenhos, esculturas e até fotografias – e nem sempre retratando bailarinas…
Considerado um mestre do Impressionismo, Edgar Degas defendia que a Polícia deveria manter vigilância… sobre os impressionistas! “Se fosse o governante, teria uma brigada especial de policiais para manter o olho em artistas que pintam paisagens observando a natureza…”
Quem leia uma frase destas há de pensar que Edgar Degas era inimigo dos impressionistas. Não mesmo… Das oito mostras hoje chamadas de “impressionistas”, de 1874 a 1886, Edgar Degas participou de nada menos que… sete! Possivelmente, então, Edgar Degas estivesse apenas fazendo uma brincadeira, ao proferir a frase acima.
Outra ironia nisto tudo é que Edgar Degas é considerado um dos principais pintores impressionistas, mesmo não pintando ao ar livre, enquanto que uma das características-chave deste estilo é a pintura plen air, isto é, ao ar livre.
E quem veja as obras de Degas há de pensar mesmo que o pintor francês idolatrasse as mulheres, ou as meninas, tamanha a beleza das garotas. Que nada! Edgar Degas era misógino, tinha aversão às mulheres. Acreditando que as mulheres eram inferiores à Arte, Degas nunca se casou.
Contradição ambulante, Edgar Degas se envolveria ainda na polêmica do chamado “Caso Dreyfus”, quando um soldado judeu francês foi acusado injustamente de traição. Degas insistia em apontar a culpa de Dreyfus, o que deixou transparecer o seu antissemitismo – assim, muitos dos amigos impressionistas de Edgar Degas dele se afastaram, após esta história.
Hilaire-Germaine-Edgar de Gas (sim, separadamente) nasceu em Paris, capital francesa, em 1834.
Os pais de Edgar Degas, ricos, montaram para ele um ateliê em sua casa. Aos 20 anos, Edgar Degas resolveu seguir em definitivo a carreira artística – para isto, contaria também, ao longo do tempo, com a ajuda de um patrono.
O estilo de Edgar Degas foi influenciado pelos franceses Jean-Auguste-Dominique Ingres (1780 – 1867) e Eugène Delacroix (1798 – 1863) – de estilos bem diferentes. Edgar Degas chegou a conhecer pessoalmente Ingres, que lhe deu um único conselho vital: “Siga as linhas!” Contudo, Edgar Degas não imitaria nenhum dos dois e desenvolveria um estilo próprio.
Porém, Edgar Degas, ao contrário de outros impressionistas, realmente não abandonou as linhas. Mas, como seus colegas, permitiu que a cor se tornasse esbatida, flutuante. Não por outro motivo, Edgar Degas é considerado por muitos um impressionista, sim. Para alguns críticos, aliás, Edgar Degas seria a ponte entre a Arte Clássica e a Arte Moderna. De fato, se no tratamento da cor e das texturas Edgar Degas adere ao grupo inovador, no tema (a beleza feminina) ele é clássico. Embora, mesmo aí, inove, com ângulos insólitos – e com composições que quebram uma regra antiga: às vezes, o objeto retratado não aparece totalmente na tela.
Edgar Degas estudou na Escola de Belas-Artes em Paris e, depois, passou três anos na Itália, onde certamente absorveu este conhecimento do clássico.
A primeira exibição de Edgar Degas aconteceu no Salão de Paris, em 1865. Edgar Degas entraria, mais tarde, para a Sociedade Anônima dos Artistas, que organizou as mostras a partir de 1874. Nesta primeira coletiva, lá estavam obras de Edgar Degas e também de Claude Monet (1840 – 1926), Pierre-Auguste Renoir (1841 – 1919) etc. Foi a partir de uma crítica pejorativa feita aos artistas desta mostra que eles passaram a ser conhecidos como “impressionistas”.
O Impressionismo, apesar da recepção inicial negativa, conseguiu, após algum tempo, conquistar paulatinamente o público e a crítica.
Mesmo assim, a escultura mais famosa de Edgar Degas, “A pequena bailarina de 14 anos” (feita por volta de 1881) ainda foi recebida sob controvérsia. Mas em 1886 Edgar Degas já estava expondo em Nova Iorque (Estados Unidos) e no início do século XX todos os impressionistas estavam em exibição em Londres.
No final de sua vida, Edgar Degas teve um problema de visão (como tiveram aqueles que, ao contrário dele, gostavam de pintar ao sol…), mas que não o impediu de continuar trabalhando.
Edgar Degas morreu na mesma Paris onde nasceu, em 1917.
ALFRED SISLEY
Alfred Sisley nasceu em 1839, em Paris, França.
Hoje, retrospectivamente, Alfred Sisley é considerado um dos principais nomes do Impressionismo, não no patamar de um Claude Monet (1840 – 1926) ou de um Pierre-Auguste Renoir (1841 – 1919), mas, mesmo assim, um dos mais importantes.
Entretanto, este reconhecimento foi todo póstumo. Alfred Sisley não chegou ao ponto de passar a vida em quase completo anonimato como Vincent van Gogh (1853 – 1890), mas só obteve algum reconhecimento quando já estava prestes a morrer, de câncer – ao contrário dos colegas impressionistas Monet e Renoir, que desfrutaram da fama (e do dinheiro) bem precocemente.
Histórias como a de Alfred Sisley nos fazem pensar… Qual o sentido da História? Isto é: de que lhe serve a fama só agora?!
Por que Claude Monet e Pierre-Auguste Renoir obtiveram reconhecimento maior que Alfred Sisley? Vários motivos explicam o sucesso ou o fracasso de uma artista: inovação, marketing pessoal, talento etc. Mas é mais fácil entender o sucesso que a falta deste, quando analisamos biografias de artistas do passado – especialmente porque sobre os bem-sucedidos há vários livros, vários artigos a nos orientar. Dos que por pouco não entram na História, quase nada se diz. Há infinitamente mais o que ler sobre Monet ou Renoir do que sobre Alfred Sisley.
Pode ser que a Arte, pura, tenha influenciado o destino da carreira de Alfred Sisley? Talvez. Ao contrário de Claude Monet e Pierre-Auguste Renoir, as pinturas de Alfred Sisley eram mais tristes, mais “acizentadas”. A paleta de cores de Alfred Sisley era abundante em bege, cinza, branco. Alfred Sisley não era fã do campo esverdeado, das flores, em suas telas – e sim de estradas, da neve. Pode ser que esta melancolia não tenha empolgado muito a marchands e ao público…
Pode ser também que o fato de ter morado um tempo na Inglaterra (onde também pintou) tenha prejudicado Alfred Sisley de construir seu nome na inquieta Paris…
Das oito mostras hoje chamadas de “Impressionistas” (na verdade, reuniam artistas de estilos díspares, embora os deste estilo novo se destacassem), ocorridas entre 1874 e 1886, Alfred Sisley participou de quatro: das três primeiras exposições e da penúltima, em 1882 – por sinal, a última que Monet e Renoir também participaram. Se estes dois artistas não participaram da última, foi por motivo diverso de Alfred Sisley (os dois já tinham a carreira decolando e já não seria tão importante aparecer numa mostra independente).
Apesar desta separação a determinado momento, no início do movimento os artistas eram mais próximos. Alfred Sisley, Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir, Frédéric Bazille (1841 – 1870), todos estudaram juntos a Pintura, e a praticavam também juntos, ao ar livre (Bazille, por sinal, é outro destes esquecidos pela História da Pintura, mais ainda que Alfred Sisley; porém, no caso de Bazille, há uma outra explicação: o pintor morreu na Guerra Franco-Prussiana, deixando poucas obras, ainda não tão inovadoras – e sem tempo para batalhar por reconhecimento).
Alfred Sisley também teve aulas com pintores mais antigos, como Camille Corot (1796 – 1875), mais para o início de carreira.
Alfred Sisley chegou a ter obras aceitas no Salão de Paris, evento oficial e concorrido – em 1866, 1868 e 1870. O Salão de Paris tinha clara tendência conservadora, e ao ter obras recusadas neste Salão, Alfred Sisley expôs seu trabalho no Salão dos Recusados.
Alfred Sisley morreu em 1899, com 59 anos.