Johannes Vermeer, ou “Jan” Vermeer, ou simplesmente Vermeer, nasceu em 1632, em Delft, Holanda. Morreu em 1675, ainda em Delft, com apenas cerca de 43 anos.
Em vida, Johannes Vermeer obteve algum reconhecimento na cidade em que viveu. Séculos depois de morto, é quase um mito. Pode parecer estranho pensarmos nisto… Em vida, ninguém daria “quase nada” por uma tela sua. Hoje, há quem seja capaz de dar o que não tem para ter um “quadrozinho” de Johannes Vermeer…
Johannes Vermeer morreu pintor. Um pintor como milhares que já passaram por este planeta. Hoje, é um mito na História da Pintura. Vermeer é um bombom feito de uma trufa rara, inacessível.
Quais as origens desta transformação de Johannes Vermeer, de pintor a mito? Citamos três, sem conseguir dizer qual a mais importante:
1) a qualidade de suas obras (“A luz de Vermeer…”, diriam alguns críticos, quase em êxtase);
2) a sua biografia escassa – muito pouco se sabe sobre a vida de Johannes Vermeer;
3) a escassez de sua obra – de Johannes Vermeer se conhece apenas umas 35 telas.
Qualquer biografia de Johannes Vermeer é apenas uma tentativa de biografia. Sabe-se muito pouco sobre o pintor holandês.
BIOGRAFIA DE JOHANNES VERMEER
Johannes Vermeer nasceu em uma família protestante. Seu pai era um tecelão talentoso, comerciante de Arte e dono de hospedagem.
Não há certeza sobre com quem Johannes Vermeer estudou Pintura. Já se acreditou que foi com Carel Fabritius (1622 – 1654); hoje alguns acreditam que foi com Leonaert Bramer (1596 – 1674).
É possível que Johannes Vermeer tenha passado um tempo nas cidades de Utrecht e Amsterdã, importantes centros artísticos da época. Em Amsterdã, atual capital da Holanda, Vermeer pode ter tido contato com a Arte Italiana.
Sabe-se que Johannes Vermeer casou-se, em 1653, com Catharina Bolnes. A família dela, católica, resistia à ideia, e Vermeer teve de se converter à religião deles.
Neste ano, Johannes Vermeer entrou para a Guilda de São Lucas, como professor-pintor.
Johannes Vermeer fez, mais para o início de sua carreira, pinturas bíblicas e mitológicas. Entretanto, no fim da década de 1650, Vermeer se voltou para a pintura de cenas cotidianas.
Na obra de Johannes Vermeer há clara influência do colega Pieter de Hooch (1629 – 1684), também holandês, nascido em Roterdã, mas que vivia em Delft na década de 1650.
Em 1662 e no ano seguinte, Johannes Vermeer foi eleito diretor da guilda. O mesmo ocorreu em 1670 e 1671.
Na fase final de sua vida, as obras de Johannes Vermeer haviam se tornado um pouco mais “abstratas”.
Johannes Vermeer provavelmente passou apuros financeiros por toda a vida. Como pintor não poderia ter sobrevivido, no ritmo lento em que produzia – no seu ritmo mais “intenso”, fazia duas ou três telas em um ano! Como o pai, então, Vermeer também foi comerciante de Arte e “estalajadeiro” (dono de hospedagem), para poder sustentar a família. Vermeer teve nada menos que 11 filhos!
Johannes Vermeer morreu muito novo, com pouco mais de 40 anos. A viúva herdou… as dívidas. E decretou falência.
Um detalhe da obra “A alcoviteira”, de 1656, pode ser o único autorretrato de Johannes Vermeer.
A fama de Johannes Vermeer em vida foi restrita. Após a morte, demorou tempos para Jan Vermeer ser alçado à categoria de mestre. Um dos responsáveis foi o pintor francês Gustave Courbet (1819 – 1877), amante do Realismo.
Os impressionistas, no fim do século XIX, também ficaram… impressionados (perdão…) com o tratamento da luz em Johannes Vermeer.
A vida de Vermeer, portanto, foi presa em um ciclo nefasto. Como não era famoso, não recebia muito por suas pinturas – assim, precisava fazer outras coisas para sustentar a família. Por consequência, não pintava tanto quanto talvez gostaria. E, assim, não ganhava dinheiro suficiente com a Arte para poder abandonar as suas outras ocupações. Assim, não produzia o bastante para poder ser mais conhecido e ganhar mais por suas telas e poder abandonar-se à Pintura. Para ele, em vida, horrível isto, certamente. Após a morte, entretanto, certamente a escassez de Vermeers no mercado contribui enormemente para o fetiche que suas obras se tornaram.
OBRAS DE JOHANNES VERMEER
Duas das características da obra de Johannes Vermeer são o uso do impasto, dando vida aos detalhes, e os pequenos pontos de luz dispersos pela tela (pointillés).
Além disto, às vezes chamam a atenção nas pinturas de Johannes Vermeer algumas distorções de escala, de disposição espacial dos objetos. Isto pode ter sido intencional ou acidental, pelo uso da câmara escura. Antonie van Leewenhoek foi pioneiro no microscópio e era cidadão de Delft – pode ter sido amigo do pintor e o executor de seu testamento.
As obras de Johannes Vermeer mais famosas têm um estilo muito característico. Pessoas, comumente mulheres solitárias, em um ambiente interior, íntimo, rodeadas de objetos significativos de suas profissões.
Muitas vezes modestas em tema, suas pinturas exalam serenidade – e um esplendor de execução poucas vezes ultrapassado. A luminosidade, com sutis gradações e com pontos perolados, é notável. Assim como seu uso do amarelo e do azul.
Johannes Vermeer retratou também pessoas notáveis. E ao menos uma cena externa, no famoso quadro “Vista de Delft”.
Há pouco mais de três dezenas de telas, atualmente, atribuídas com segurança a Johannes Vermeer. Muitas que já se pensou terem sido feitas pelo artista, hoje já não se acredita que foram. E há a fantástica história de Han van Meegeren, que, em pleno século 20, produziu vários quadros “à moda de Vermeer” e enganou até aos nazistas! [Esta história já apareceu em ao menos dois livros e um filme – ver abaixo.]
LIVROS SOBRE JOHANNES VERMEER
Aparentemente não há, em português, algum livro tipo biografia clássica sobre Johannes Vermeer. Ainda bem. Pois, como afirmamos, pouco se conhece, de verdade, sobre a vida do pintor. E há dois livros que contam o que se sabe – e entregam muito mais, já que Vermeer é apenas um “gancho” nestas histórias.
“EU FUI VERMEER”
“Eu fui Vermeer”, livro de Frank Wynne, conta a história de Han van Meegeren, um pintor holandês frustrado e revoltado que, na primeira metade do século 20, resolve fazer quadros à moda de Johannes Vermeer. Han van Meegeren não exatamente falsificou obras de Vermeer – ele não copiava as obras conhecidas do famoso artista. Ele criava pinturas que se pareciam muito com o estilo de Vermeer – induzindo ao erro colecionadores, críticos e historiadores que pensavam estar frente a obras perdidas do holandês do século 17.
Vem a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha invade a Holanda – e Han van Meegeren continua a enganar apreciadores de Arte: agora, os nazistas.
Acaba a guerra e Han van Meegeren é acusado de traição – por ter vendido patrimônios nacionais aos invasores. Para provar sua inocência, ele terá de pintar um quadro “de Vermeer” em pleno julgamento!
“Eu fui Vermeer” é uma excelente leitura! A história é quase inacreditável e Frank Wynne a narra muito bem.
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“O CHAPÉU DE VERMEER”
O livro de Timothy Brook não é exatamente sobre Johannes Vermeer, embora fale muito sobre o pintor holandês. A obra é um livro de História Geral – mais especificamente, sobre a História Holandesa do século 17.
Partindo de uma análise dos detalhes presentes nas obras de Johannes Vermeer, o autor mostra como a globalização avançava, pouco mais de 100 anos após a descoberta da América.
A Holanda estava no “centro do mundo” – o seu poderio comercial se refletia nas mercadorias, nas novidades que chegavam a cada dia no país. Este intercâmbio, o novo mundo que se desenhava, aparecia nas obras de Johannes Vermeer.
“O chapéu de Vermeer” é um livro tanto para quem gosta de História Geral quanto para quem gosta de Johannes Vermeer. Os dois sairão satisfeitos, já que a pesquisa de Timothy Brook foi extensa, o livro é bem escrito e a tradução é boa.
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FILMES SOBRE VERMEER
Os dois filmes citados aqui não contam exatamente a vida de Johannes Vermeer. Um, na verdade, nem é baseado em fatos reais. Porém os dois acabam sendo boas opções – também porque são bons filmes – para que se conheça um pouco mais, mesmo que indiretamente, o pintor.
“MOÇA COM BRINCO DE PÉROLAS”
“Moça com brinco de pérolas” é um filme de 2003, com Scarlet Johansson e Colin Firth – este no papel do pintor Johannes Vermeer. A atriz representa uma funcionária da casa do pintor, que, segundo o filme, serve de inspiração – não apenas artística, como também “sentimental” – para o famoso quadro que dá nome ao filme.
Os brincos que a serviçal usam pertencem à esposa de Johannes Vermeer. Que descobrirá toda a situação. [Não contaremos o final do filme aqui.]
O filme não é baseado em fatos reais. É uma romantização fictícia baseada no quadro. Ainda assim, é um bom filme e instrutivo, para quem deseja conhecer mais sobre o artista e sua época e suas técnicas de pinturas – o filme adota a tese de que Johannes Vermeer usava a câmara escura, para reproduzir com fidelidade os ambientes caseiros em suas pequenas telas.
Veja o trailer do filme, legendado, aqui .
“O ÚLTIMO VERMEER”
O filme “O último Vermeer”, de 2019, é baseado no livro “The man who made Vermeers” (“O homem que pintou Vermeers”, em tradução livre) (link), de Jonathan Lopez. Conta a história do falsificador Han Van Meegeren. A mesma história contada em no livro de Frank Wynne, que foi traduzido para o português, o excelente “Eu fui Vermeer” (ver acima). Outro livro não traduzido a narrar a mesma história é “The forger’s spell” (“O feitiço do falsificador”), de Edward Dolnick (link).
Trailer do filme aqui .