Neste texto, conheça a vida (biografia) e obras famosas dos mais importantes pintores representantes do Surrealismo: Salvador Dalí, René Magritte e Max Ernst.
SALVADOR DALÍ
Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí y Domènech, conhecido no mundo artístico simplesmente como Salvador Dalí, nasceu na Espanha, em 1904.
O pintor foi um dos artistas mais famosos do século XX.
![Salvador Dalí](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/2022/08/DALI-Salvador.jpg)
Inicialmente, Salvador Dalí estudou na Real Academia de Belas-Artes em Madri, onde fez alguns experimentos com o Cubismo – a técnica de fragmentação de imagens desenvolvida pelo espanhol Pablo Picasso (1881- 1973) e pelo francês Georges Braque (1882 – 1963), na primeira década do século, quando ambos trabalhavam em Paris (França).
Em Madri, Salvador Dalí se juntou à vanguarda artística, tornando-se amigo, por exemplo, do poeta Federico García Lorca (1898 – 1936) e do cineasta Luis Buñuel (1900 – 1983), ambos espanhóis. Com Buñuel, Salvador Dalí realizou o curto filme (16 minutos apenas) “Um cão andaluz” (“Un chien andalou”), em 1929 – filme propositalmente “confuso”, caótico, que tem uma conhecida cena de uma lâmina cortando um olho.
Mas já que toda a efervescência cultural acontecia mesmo era em Paris, Dalí se mandou para a capital francesa. Lá se juntou ao grupo surrealista, capitaneado pelo escritor francês André Breton (1896 – 1966), um ex-adepto do Dadaísmo. O Surrealismo pregava uma libertação das amarras do subconsciente, que deveria aflorar então nas obras artísticas.
Salvador Dalí disse ter inventado um método para conseguir isto, o qual chamou de “atividade paranoico-crítica”. Dalí, espanhol como Picasso, parece ter aprendido com este que o segredo do sucesso não é apenas um trabalho de qualidade, mas também uma boa dose de marketing, de extravagâncias.
Mas a Pintura de Salvador Dalí tinha, sim, suas virtudes – tanto em termos de domínio da técnica quanto em criatividade.
Em paisagens inóspitas, áridas, fatos se sucedem sem lógica. Talvez sua imagem mais conhecida seja o óleo sobre tela “A persistência da memória”, de 1931, em que relógios derretidos repousam sobre uma mesa e um galho de uma árvore seca.
![](https://ahistoriadaarte.com.br/wp-content/uploads/2022/08/DALI-Salvador-A-persistencia-da-memoria.jpg)
Salvador Dalí também inseriu ilusões de ótica em suas pinturas. “Cisnes refletindo elefantes”, de 1937, é um bom exemplo.
Mas Salvador Dalí, apesar do seu potencial, acabaria sendo excluído do movimento surrealista após ter recusado a adoção do Marxismo.
Em 1940, Salvador Dalí se mudou para os Estados Unidos. No ano seguinte, no MoMA (Nova Iorque), foi realizada sua primeira retrospectiva.
Nos Estados Unidos, Salvador Dalí trabalhou com publicidade, moda, teatro, cinema…Salvador Dalí conseguiu então o que poucos artistas plásticos conseguiram: enriqueceu.
O cineasta inglês Alfred Hitchcock (1899 – 1980) convidou Salvador Dalí para fazer a cenografia de uma sequência de sonho no filme de viés psicanalítico “Quando fala o coração”, lançado em 1945. Várias das ideias de Dalí foram cortadas, com o argumento de controle de custos, e Dalí acreditou que, na verdade, queriam apenas o seu nome no filme.
Nos últimos anos de vida, Salvador Dalí, um homem que como Adolf Hitler pode ser reconhecido por seu bigode, passou a ser quase uma zombaria de si mesmo. Conta-se, por exemplo, que Salvador Dalí vendia folhas assinadas com o seu nome por dez dólares. Embora a um primeiro olhar atitudes como estas possam, para alguns, parecer apenas ações sem-graça, quase idiotas, há, por trás desta análise superficial, um questionamento do real valor da Arte. É típica a situação em que uma pessoa passa friamente por um quadro, até que ao saber que se trata de obra de algum artista famoso, passa a admirá-lo. A crítica de Dalí pode passar por este caminho: é apenas uma folha de papel rabiscada…
Salvador Dalí morreu em 1989, em território espanhol.
RENÉ MAGRITTE
Diz-se que Magritte não gostava de biografias. Poderíamos satisfazê-lo dizendo que, de fato, da vida de Magritte não há muito a se dizer. Quanto à agitação que se espera da vida de um artista, Magritte nos frustra: sua inquietação se dava no plano mental, e era transposta a suas telas. Não há nada de muito escandaloso ou polêmico na vida de Magritte. Morou quase sempre na mesma cidade, casou-se logo cedo, nem filhos teve… Nada que se compare a um enlouquecido Van Gogh cortando a própria orelha… (aliás, qual artista pode ser comparado ao ensandecido Van Gogh?!)
Entretanto, rabisquemos mesmo assim algumas linhas à respeito da vida de Magritte…
René François Ghislain Magritte, mundialmente conhecido apenas como “René Magritte“, nasceu em 1898, em Lessines, minúscula cidade belga (atualmente a cidade só tem 17 mil habitantes). Seu pai era alfaiate e a mãe, chapeleira.
Aos 12 anos, Magritte começou a aprender desenho.
Quando tinha 13 anos, a mãe, Adeline, se suicidou, pulando de uma ponte e morrendo afogada em um rio. (Leia uma discussão sobre a suposta influência do episódio na obra de Magritte na análise do quadro “Os amantes“, de 1928.)
Aos 18 anos, em 1916, Magritte entrou em uma escola de Belas Artes em Bruxelas, capital da Bélgica.
Em 1992, casou-se com uma jovem chamada Georgette, a quem já conhecia desde a adolescência.
No começo de sua vida adulta, Magritte trabalhou como desenhista em uma fábrica de papel de paredes, além de fazer cartazes para peças de teatro.
Em 1926, conseguiu um contrato com uma galeria, e a pintura passou a ser sua principal atividade. Neste mesmo ano, pintou seu primeiro quadro surrealista, “Le jockey perdu”, se juntando ao movimento criado em Paris, dois anos antes, por André Breton.
Este não foi seu primeiro quadro, foi apenas o primeiro em que Magritte achava ter encontrado seu estilo. Antes, já praticava colagens e outros experimentos, e tinha uma queda pelo Impressionismo. Diz-se que foi muito influenciado por uma tela de De Chirico, porém Magrite minimiza a questão.
Nesta época, Magritte chegava a pintar um quadro por dia.
Em 1927, René Magritte realizou sua primeira exposição, que não foi bem recebida pela crítica.
Neste ano ainda, mudou-se para Paris (que não dista mais de 300 quilômetros de Bruxelas), diz-se que por causa da reação amarga dos críticos de Bruxelas. Em Paris, ficou amigo de artistas como os poetas André Breton e Paul Éluard e o pintor Marcel Duchamp.
Em 1929, Magritte pintou o célebre “Ceci n’est pas une pipe”.
Magritte permaneceu na capital francesa por 3 anos e de lá evadiu-se, voltando para Bruxelas, diz uma versão, por não gostar do ambiente polêmico; outra afirma que, por causa do término do contrato com a galeria de Bruxelas, Magritte já não tinha como sustentar-se em Paris.
Na década de 30 Magritte já tinha obras expostas nos Estados Unidos (mas só visitaria o país décadas depois). Seu estilo é classificado como “realismo mágico”.
Semanalmente, um grupo de surrealistas se reunia em sua casa, quando então discutiam nomes para seus quadros. Pensavam estes surrealistas que “a subversão tem de ser discreta”. Outro nome importante no Surrealismo belga foi Paul Delvaux.
Magritte manteve o mesmo endereço de trabalho de 1930 a 1954 – no local, posteriormente, foi construído um museu.
Diariamente, Magritte passeava com seu cachorro. (Sim, a que ponto chegamos para dar volume a uma biografia!)
Durante a Segunda Guerra Mundial Bruxelas foi ocupada pelos alemães, mas Magritte permaneceu na cidade.
Em 1945, Magritte se filiou ao Partido Comunista. A II Guerra havia acabado e, agora, com os horrores do Holocausto e da bomba atômica, as propostas surrealistas pareciam brincadeiras inócuas. Magritte entra numa fase “solar”, um pouco inspirada nas cores de Monet, com telas que tentavam recuperar um pouco a alegria da vida. Os surrealistas franceses criticaram Magritte por esta mudança, e renegaram uma exposição sua na França, em 1948, composta por obras do apelidado “Período de Desbunde”, cujas telas se aproximavam do Expressionismo e do Fauvismo. Curiosamente, estas obras raramente são vistas em coletâneas do artista – e, se não nos dissessem que a Magritte pertencem, não o reconheceríamos como autor.
Conta-se que Magritte já estava rompido com o surrealismo francês antes desta mudança, e teria tais telas para mostrar sua independência.
Logo Magritte retornaria à sua técnica habitual. Diz-se que a volta foi atendendo a pedidos de sua esposa.
Nos anos seguintes, Magritte foi contratado pelo governo para a realização de diversos murais em Bruxelas.
À medida que envelhecia, Magritte pintava menos. Preferia trocar correspondências intelectuais.
René Magritte morreu de câncer no pâncreas, em 1967, em Bruxelas, tendo deixado mais de 1000 telas e quantidade semelhante de guaches e desenhos.
Em 2009, finalmente, foi inaugurado um grande museu dedicado a Magritte, em Bruxelas.
MAX ERNST
Max Ernst nasceu em 1891, na Alemanha.
Max Ernst é um dos principais nomes do Surrealismo, embora seja bem menos conhecido, hoje, que o espanhol Salvador Dalí (1904 – 1989) ou até mesmo que o belga René Magritte (1898 – 1967). O escritor francês André Breton (1896 – 1966), pai (digamos assim) do Surrealismo, considerava Max Ernst “o mais magnífico cérebro assombrado”.
Max Ernst não foi apenas um pintor, mas também um escultor, escritor… Mesmo na Pintura, não se restringiu ao óleo sobre tela, aplicando também a suas obras as técnicas de frottage (fricção), colagem, grattage (raspagem) e decalque.
O pai de Max Ernst ensinava princípios da Arte a surdos-mudos. Católico, a família vivia em um ambiente repressivo, numa vila perto de Colônia, cidade no interior da Alemanha.
“Odiei os deveres desde os tempos da escola. Por outro lado, sempre senti uma irresistível atração pelas coisas inúteis, pelos prazeres passageiros, por aqueles momentos que dão vertigem, pelos instantes de luxúria.”
Max Ernst estudou Psiquiatria e Filosofia, antes de decidir-se pelo caminho artístico.
Max Ernst serviu no Exército Alemão na Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918). Foi ferido duas vezes: uma, pelo recuo de um canhão disparado; outra, pelo coice de uma mula.. Como vários que foram à Guerra, Max Ernst retornou com a sensação de que o mundo, o ser humano, a vida, são absurdos. Muitos carregaram estes traumas nos ombros – Max Ernst transformou-os em Arte.
Max Ernst criou um alter-ego, um homem pássaro chamado Loplop, que sempre aparecia em suas obras, a lembrar da absurdidade de tudo. Max Ernst explicava que o personagem nasceu de uma confusão que fazia, quando criança, entre homens e pássaros (?!), e da associação das aves com o nascimento e a morte (como no mito da Fênix).
Em 1920, com o francês Jean Arp (1886 – 1966) e com o alemão Johannes Theodor Baargeld (na verdade, pseudônimo de Alfred Emanuel Ferdinand Grünwald, 1892 – 1927), Max Ernst organizou a primeira exposição da Colônia Dadaísta. O objetivo era chocar. Segundo Max Ernst, os artistas queriam atacar aspectos do sistema que haviam sido responsáveis pela guerra, como a lógica, a linguagem e a Pintura (?!). Acusada de obscena, a mostra foi fechada.
“Celebes” (ou “O elefante de Célèbe”), de 1921, de Max Ernst, é uma das primeiras telas surrealistas – e, com perdão do trocadilho, uma obra célebre, com sua fusão do animal com um aspirador de pó.
Em 1922, Max Ernst se mudou para Paris, e começou a usar colagens, fazendo justaposições aparentemente nonsense. A matéria-prima podia ir de obras de gravuristas do Renascimento, como Albrecht Dürer (1471 – 1528) a recortes de jornais do dia.
Em 1934, Max Ernst lançou o romance-colagem “Uma semana de bondade”, de tom melancólico e surreal, publicado inicialmente na forma de panfletos. Em sua vasta carreira, Max Ernst atacou de poeta, colaborou com o cineasta Luis Buñuel (1900 – 1983)…
Em 1936, uma grande exposição organizada pelo MoMa de Nova Iorque, “Arte Fantástica: O Surrealismo Dadá”, foram expostas 49 obras de Max Ernst.
A Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) também não foi uma boa experiência para Max Ernst. Quando a Guerra começou, Max Ernst foi para o sul da França com sua companheira, Leonora Carrington, mas foi preso pelos franceses, que o confundiram com um inimigo (Max Ernst, nos lembremos, era alemão, e Alemanha e França estavam em lados opostos na batalha). Depois que conseguiu a liberdade, foi perseguido pelos nazistas – que talvez considerassem-no um traidor, já que era um alemão que se mudara para a França… Restou a Max Ernst fugir para os Estados Unidos, com a muito rica mecenas Peggy Guggenheim – e, em 1942, os dois se casaram. Diz-se que Peggy Guggenheim era sexualmente obcecada por Max Ernst…
Max Ernst trocava de mulheres, mas não fazia disto tanto alarde quanto o espanhol Pablo Picasso (1881 – 1973)… Em 1946, se casou novamente, com Dorothea Tanning, com a qual viveu primeiramente nos Estados Unidos e, posteriormente, na França.
O movimento do Expressionismo Abstrato, que possivelmente tenha seu maior nome no americano Jackson Pollock (1912 – 1956), talvez deva a Max Ernst a invenção do dripping, o respingo da tinta sobre a tela. Foi nos Estados Unidos que Max Ernst teve a idéia de colocar tinta em uma lata vazia de conservas, com um furo, e passar com esta lata pingando sobre a tela.
No campo da Escultura, Max Ernst foi mais um “homenageador”. Sua obra faz muitas referências aos trabalhos do suíço Alberto Giacometti (1901 – 1966), um de seus grandes amigos; às obras do romeno Constantin Brancusi (1876 – 1957) – e até à pinturas de (outro amigo) Giorgio de Chirico (1888 – 1978), artista que muitos consideram o criador do Surrealismo. Mas, em contato com a cultura indígena americana, Max Ernst produziu muitas esculturas interessantes, em bronze.
Max Ernst morreu na França, em 1976, com 85 anos.